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Grãos  
Logística: perspectivas de um horizonte melhor
Décadas de atraso no setor dão lugar a um período novo, com mudanças significativas já para os próximos anos
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Juliana Royo
13/01/2012

O Brasil nunca esteve tão na moda e com o setor econômico tão equilibrado. Já é a sexta maior economia do mundo. E grande parte deste sucesso se deve ao agronegócio, sobretudo no setor de grãos. A produção bate recorde todos os anos, a demanda interna e externa só aumenta e a expectativa é de crescimento contínuo do setor. No entanto, apesar dos números positivos na economia e na produção, a logística e o transporte de grãos no Brasil ficou parado no passado. Para entender melhor a situação, o Portal Dia de Campo entrevistou o coordenador do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso, Edeon Vaz Ferreira, que é integrante da Câmara de Logística e Transporte do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e um dos maiores especialistas na área. Ele diz que o transporte no Brasil é um dos mais caros do mundo, pede que o Governo Federal dê mais atenção à construção de hidrovias e diz que a solução é passar a escoar a produção de grãos do Centro-Oeste para o Norte do país. Mas Edeon está otimista. Ele diz que o atual Governo está tirando as obras do papel, acredita que as principais ferrovias e rodovias estarão prontas dentro de poucos anos e estima que em 15 anos o Brasil consiga se modernizar e ter uma logística adequada para uma potência.


Portal Dia de Campo - O Brasil é a sexta maior economia do mundo e uma verdadeira potência agrícola. No entanto, a logística e transporte da produção brasileira não condiz com esses novos parâmetros e está muito aquém das necessidades de uma potência. Qual é a situação hoje da logística e transporte de grãos no Brasil?
Edeon Ferreira
- Realmente a questão de logística no Brasil é seríssima. Nós temos muitas rodovias, poucas ferrovias e quase nenhuma hidrovia. Os modais de transporte no Brasil estão invertidos, quando nós deveríamos ter mais ferrovias e hidrovias. Nós estamos fazendo transporte de longas distâncias em caminhões, o que é um despropósito. Para você ter uma ideia, a soja que sai de Sorriso (MT) roda 2.100 km até Paranaguá (PR) para ser embarcada para o exterior. Isso gera um custo em torno de US$130 por tonelada, um dos mais caros do mundo. Quando nós utilizamos a ferrovia para essa soja e transportamos de Sorriso (MT) até o Alto Araguaia (MT) e embarca pra Santos (SP), ela percorre algo como 1.950 km e o custo é semelhante. Ou seja, os custos de transporte ainda são extremamente elevados para uma commoditie que tem baixo valor agregado.

Portal Dia de Campo - O que precisa ser feito imediatamente, para resolver essas situações mais graves?
Edeon Ferreira
- Nós estamos com um problema muito antigo porque vários governos não fizeram nenhum investimento em infraestrutura. Hoje nós temos o PNLT (Plano Nacional de Logística de Transporte) elaborado pelo Ministério dos Transportes e muitas obras já estão acontecendo. A BR163 está em obras para chegar até Santarém (PA), aí nós vamos conseguir fazer uma inversão e ao invés de mandar os produtos para Santos ou Paranaguá, nós vamos mandar para o Norte. Não significa que nós vamos deixar de mandar para Santos, mas diminuir bastante a remessa de produtos para os portos do Sul. Tem a BR158 que está em obra no Mato Grosso, tem também a BR242, que é uma leste-oeste no Mato Grosso. Está em estudo bastante avançado a ferrovia de integração Centro-Oeste que vai ligar Campinorte (na ferrovia Norte-Sul) à Lucas do Rio Verde (MT). Temos a Fiol, que é a ferrovia de integração Oeste-Leste, que vai ligar Figueirópolis (TO) até o Porto de Ilhéus (BA). A ferrovia Transnordestina está em construção. A gente está sentindo que existe um esforço do Governo Federal em tentar recuperar esse tempo, mas é um tempo que não resolve o nosso problema de imediato. As soluções são de médio a longo prazo.

Portal Dia de Campo - Qual é o principal problema atualmente, então?
Edeon Ferreira
- O que nos assusta é a pouca mobilidade do Governo em relação às hidrovias. Nós temos várias hidrovias para serem estudadas como a hidrovia do Teles-Pires, a do Arino-Juruena-Tapajós, a hidrovia do Tocantins, a do São Francisco, do Parnaíba, a do Tietê, do próprio Araguaia. São muitas hidrovias que poderiam, pelo menos, estar sendo feitos estudos de viabilidade técnica, econômica e ambiental (EVTEA). Esse estudo define efetivamente a viabilidade dessas hidrovias e o Governo não está fazendo absolutamente nada em relação a isso. Por outro lado, você vê o setor elétrico com estudos mais avançados querendo fazer as interrupções destes rios para geração de energia através de barramento para construção de hidroelétricas. Mas se não se fizer simultaneamente a hidroelétrica com a eclusa, depois nós vamos pagar muito mais caro para tentar navegar estes rios. A área rodoviária está em expansão e estão sendo feitas manutenções, já existe uma política destinada a fazer uma grande ferrovia Norte-Sul no Brasil, ligando Belém (PA) ao Rio Grande do Sul com as ferrovias laterais e nada se faz em relação às hidrovias.

Portal Dia de Campo - E por que o Governo não toma uma providência? É falta de pressão dos produtores ou é desleixo do governo? Porque a situação é muito grave e nós vemos quilômetros de engarrafamento no Sul do país para tentar escoar a safra.
Edeon Ferreira -
Nós temos agora um grupo de entidades que formam hoje o Movimento Pró-Logística como força de pressão do setor produtivo no Governo para que se possa viabilizar esses modais, é caso único no Brasil. É preciso estudar as hidrovias e mudar os marcos regulatórios das ferrovias, porque do jeito que está aí não vai ajudar em nada. Quando a concessão foi feita, você praticamente criou um monopólio natural, em que eu sou o concessionário da ferrovia, só eu trafego e eu cobro o preço que eu quero. A ANTT (Agência Nacional dos Transportes Terrestres) já soltou três resoluções no mês de julho em que ela define as regras para se fazer o tráfego mútuo ou o direito de passagem, o que já é um ponto positivo. O Brasil tem 24 mil km de ferrovia concessionário e só 10 mil em operação. Então, você tem um número muito grande de ferrovias que estão paradas. O que nós precisamos é que o Congresso Nacional e as entidades de classe pressionem o Governo para que a gente viabilize também as hidrovias. É o modal ideal para o transporte de grandes massas, de commodities, tanto minérios quanto grãos.

Portal Dia de Campo - Exite uma previsão de quando estas novas ferrovias que o senhor comentou devem ser concluídas?
Edeon Ferreira
- A Fiol já está em obras e a previsão é de 2015, a ferrovia Norte-Sul tem a previsão de chegada à Anápolis (GO) em meados de 2012, vindo de Açailândia. Já começaram as obras do trecho de Anápolis (GO) até Estrela do Oeste (SP), que deve ficar pronto até 2014. O que mais incomoda no Brasil é que hoje nós temos dois grandes problemas para fazer qualquer tipo de obra: um é o Ibama e o outro é a Funai. Nunca vi tanta exigência para se elaborar qualquer obra, tem processos que se arrastam por anos porque é necessário avaliar a pastagem animal naquele trecho ou porque a região é de andança de índios. Existe um excesso de zelo em cima dessas exigências. Eu acho que o Governo tinha que desenvolver alguns grupos-tarefa para se resolver estes entraves que atrapalham o andamento destas obras.

Portal Dia de Campo - O senhor disse que o transporte de grãos no Brasil é um dos mais caros do mundo. Com a construção das ferrovias e a possibilidade das hidrovias, como ficaria o custo do transporte de grãos? Existe um estudo já feito?
Edeon Ferreira
- Temos feito alguns estudos. Nós acreditamos que vai haver uma redução no custo de frete em torno de 55%, com a hidrovia Teles-Pires Tapajós, fazendo as eclusas. Ou seja, o custo que nós temos hoje de Sorriso (MT) para se levar um produto a Paranaguá ou Santos, no momento em que nós utilizarmos essa hidrovia para levar o produto para Ibiritituba ou Santarém e, de lá, para Belém (PA) nós vamos ter uma redução por quilômetro na faixa de 55%.

Portal Dia de Campo - Qual é o investimento necessário que o senhor calcula para resolver estes problemas graves?
Edeon Ferreira
- Em termos desse orçamento nós só vamos ter um número quando os estudos estiverem prontos, porque sem os estudos tudo é chute, que podem estar próximos ou muito longe do gol. O que nós temos que pensar é que agora nós temos que fazer o EVTEA, para termos um ideia do valor aproximado e esse estudo custa em torno de R$ 12 milhões para fazer na Teles Pires-Tapajós e Juruena. O que é nada porque vamos deixar de gastar com frete em torno de R$ 1 bilhão ao ano.

Portal Dia de Campo - A produção de grãos só tende a crescer. Em quanto tempo o Brasil tem condição de correr atrás e colocar em dia a situação de logística no país?
Edeon Ferreira
- O caso mais grave que nós temos hoje no país é o de Mato Grosso, porque ele tá no centro do país, longe dos portos, muito distante. Inclusive, aí nós temos que falar um pouco da questão do Arco Norte. Nós temos sempre que virar o destino dos nossos produtos. Ao invés da gente escoar a produção de grãos descendo para o Sul e Sudeste, nós temos que virar isso para o Norte, para os portos de Belém (PA), Santana (AP) e Itaqui (MA). Fazendo isto nós vamos estar desafogando os portos do Sul e Sudeste, permitindo que eles tenham maior eficiência. Nós acreditamos que o Estado de Mato Grosso, pelo andamento das obras que já começaram, em cinco anos será um novo estado. Se os governos futuros derem continuidade ao que está sendo feito hoje e o Governo atual abrir os olhos para as hidrovias, num espaço de 15 anos nós teremos um Brasil totalmente diferente do que nós temos hoje.

 

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