A dendeicultura nacional, impulsionada pelo aumento da demanda por óleos para diversos fins, passa pelo momento de expansão mais intenso desde o início de sua exploração comercial. Esta expansão é reflexo, dentre outras, de ações e políticas governamentais como a criação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel em 2005, e também do Programa Sustentável da Palma de óleo no Brasil, lançado em maio de 2010, este, como objetivo de disciplinar a expansão e oferecer instrumentos para produção sustentável de óleo de dendê no Brasil.
Desta forma acredita-se que um grande desafio para a dendeicultura Brasileira será o desenvolvimento sistemas de produção sustentáveis, econômica e ecologicamente adequados à região norte, região onde se concentra as maiores áreas de plantio do dendê no Brasil. Com a expansão da dendeicultura no Brasil, aumenta-se também a demanda pelo desenvolvimento de novos modelos sustentáveis de implantação e exploração econômica da cultura para nichos específicos.
Neste sentido, a Natura Inovação propôs e implantou um projeto, que está sendo conduzido em parceria com a Embrapa Amazônia Ocidental e a Embrapa Amazônia Oriental nas linhas de pesquisa da Dendeicultura e nos Serviços Ambientais, respectivamente. O projeto visa o desenvolvimento de sistemas alternativos de produção sustentável de óleo de dendê voltados para a agricultura familiar da Amazônia. O projeto teve como premissa ser desenvolvido na região Amazônica junto com agricultores familiares e com participação de outras instituições e consultores técnicos em temas específicos, num total aproximado de 30 pesquisadores.
A Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA) foi selecionada para este projeto de pesquisa dado seu histórico de cultivo de espécies agrícolas consorciadas e/ou em sistemas agroflorestais, pela experiência com a produção de dendê, nível de organização e localização favorável a dendeicultura.
Foram realizadas atividades participativas para seleção dos agricultores, das áreas experimentais e para definição das espécies que compõem o desenho dos SAF´s estudados. Unidades demonstrativas de 6 hectares foram implantadas em três propriedades de agricultores cooperados da CAMTA, em fevereiro de 2008. Cada desenho foi adaptado às realidades locais e culturais. As áreas experimentais estão localizadas no município de Tomé-Açu, em Quatro Bocas, e apresentam características distintas.
Os sistemas agroflorestais estudados foram construídos com base nos princípios agroecológicos e na agricultura de baixo carbono visando otimizar os benefícios ambientais, sociais e econômicos. No projeto, o dendê (Elaeis guineensis) segue o arranjo em aléias (alley cropping) consorciado com cacau (Theobroma cacao), Açai (Euterpe oleracea), ucuúba (Virola surinamensis) entre outras espécies oleaginosas, frutíferas, aromáticas, madeireiras e adubadeiras. Na pesquisa dos SAF Dendê, estão sendo incrementadas práticas de manejo que visam maior diversidade funcional, o manejo da matéria orgânica, o armazenamento de carbono (no solo e na biomassa), a conservação da biodiversidade, a manutenção de itens alimentares e as oportunidades econômicas.
Os principais desafios são validar junto aos agricultores as associações de espécies e formas de manejo que resultem na construção de agroecossistemas sustentáveis e adequados às necessidades de cada realidade como uma alternativa possível ao cultivo do dendezeiro em monocultivo. O desenho experimental está composto por dois sistemas agroflorestais, o SAF (plantas recicladoras ou “adubadeiras”) e o SAF Biodiverso, 2 métodos de preparo do solo (manual e mecanizado) e três históricos de uso do solo (capoeira, área de pousio e pastagem), todos tendo como foco principal a cultura do dendezeiro.
Observações preliminares mostram que as plantas de dendezeiro estão como desenvolvimento (vegetativo e reprodutivo) adequado e semelhante às plantas em modelo convencional de monocultivo. Entretanto, ressalta-se que o experimento encontra-se numa fase inicial do ponto de vista de avaliação da produção do dendezeiro, e que é necessário fazer a avaliação da produção por mais alguns anos para verificar a produtividade do dendezeiro em sistemas agroflorestais bem como a análise da viabilidade econômica dos sistemas adotados.
Não há referência mundial sobre a produção de dendê em sistemas agroflorestais, o que torna este projeto pioneiro, o que pode contribuir de maneira significativa para a discussão de sistemas alternativos sustentáveis de produção de óleo de dendê e mudanças climáticas.
Adicionalmente, espera-se que a diversificação da produção permita ao agricultor maior valor agregado, proporcionado pelo diversificação da produção por unidade de área e otimização da mão-de-obra e do uso dos insumos, gerando fonte alternativa de renda, além de favorecer o manejo fitossanitário e melhorar a capacidade produtiva do solo.
|