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Integração Lavoura Pecuária    
ILPF não é adotada como deveria no Brasil
Para pesquisador João Kluthcouski, muitos pecuaristas são tecnofóbicos e extrativistas ao manterem áreas degradadas e governo deve punir
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Da Redação
06/07/2012

A Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) é uma técnica que tem sido amplamente divulgada, inclusive em grandes encontros e debates entre os principais líderes e personalidades do setor rural. Contudo, apesar de se mostrar uma excelente alternativa para o produtor e para a própria economia, ela ainda não é adotada por grande parte dos pecuaristas. Para entender as causas desse problema, o Portal Dia de Campo conversou com João Kluthcouski (conhecido como João K), pesquisador da Embrapa Cerrados, que tem quase 40 anos de vivencia prática setor e de participação em dias de campo. Na entrevista exclusiva, ele aborda alguns aspectos como a baixa qualidade na assistência técnica e a própria aversão do pecuarista em adotar novas tecnologias.

Portal Dia de Campo - Sob aspectos agronômicos, zootécnicos, ambientais e econômicos a ILPF é a solução para inúmeros problemas dentro do setor agrícola nacional. Mas ela é adotada como deveria no país? Qual o balanço que o senhor faz sobre a adoção da ILPF
hoje no Brasil?

João K - A ILPF não é adotada na forma ideal. Ela é adotada principalmente por produtores de grãos. O país conta com uma área de produção de grãos próxima a 50 milhões de hectares. Na pecuária, estamos atingindo uma área de 180 milhões.  Estima-se que quase 100 milhões de hectares de pasto apresente algum grau de degradação. Se quisermos viabilizar realmente a questão da agropecuária hoje no Brasil, a primeira medida é tentar recuperar essas áreas.

Portal Dia de Campo - Quem adota a ILPF hoje no Brasil? Por quê?

João K - Os agricultores adotam bem a integração, que inclusive está crescendo no meio. Mas os pecuaristas têm muito medo de entrar no ramo de produção de grãos. De certa forma, eles são “tecnofóbicos”, ou seja, têm aversão à tecnologia. Na verdade, a maioria desses grandes pecuaristas que detém as áreas degradadas não depende da pecuária para a sua subsistência. 

Portal Dia de Campo - Por que os produtores não estão adotando a prática como deveriam? Na sua opinião, por parte das iniciativas pública e privada o que precisa ser melhorado? O Crédito, as tecnologias, a divulgação ou a assistência técnica?

João K - Primeiro porque já existe a cultura do pasto degradado. Em segundo lugar, existe o fator da demanda pela produção. Se ampliarmos muito nossa área de ILPF e produzir bastante grão, precisaremos de mercado para isso. Mas essas expectativas ainda não são muito claras. Particularmente, é decepcionante ver o estado em que estão essas áreas. O crédito já existe, é bom, fácil e atrativo. Não nos falta também a tecnologia. O que precisa ser melhorada é a transferência de tecnologia. Não temos uma assistência técnica preparada para atender à demanda de todas as regiões brasileiras.

Portal Dia de Campo - Sob o ponto de vista técnico, qual a principal dificuldade hoje dos produtores rurais no que diz respeito ao bojo do pacote tecnológico da ILPF?

João K - A principal dificuldade é a assistência técnica. Se o produtor quiser iniciar a implantação da ILPF, ainda falta assistência técnica a altura. Existe a assistência privada, mas ela é cara. Já a assistência do governo, está muito enfraquecida na maioria das regiões brasileiras.

ILPF é adotada principalmente por produtores de grãos

Portal Dia de Campo - O senhor usa os termos “tecnofóbicos” e “extrativistas” para definir a linha de trabalho de alguns pecuaristas ainda hoje. Pode falar mais a respeito?

João K - O pecuarista nato tem medo de tecnologia e de dívidas. Esse é um problema crônico porque a tendência é o desaparecimento dos pequenos e médios produtores se não melhorarem seu sistema de produção.
 
Portal Dia de Campo - E por que o medo de investir em tecnologia?

João K - Acredito que seja pelo fato de o produtor não conhecer o processo de produção agrícola. Geralmente, ele é um pecuarista urbano, teve um passado cheio de dificuldades e acabou criando uma antipatia por investir em máquinas, insumos, etc. Ele ainda não entendeu que a agricultura bem feita apresenta um retorno muito maior que o da pecuária. Além disso, ele é acomodado, oportunista, extrativista e especulador. Por outro lado, não devemos generalizar, pois existem sim bons pecuaristas.

Portal Dia de Campo - O que as áreas de pastagens degradadas representam hoje para o modelo produtivo brasileiro?

João K - O que antes era uma área de 200 milhões de hectares fotossinteticamente ativa, se transformou em 100 milhões de hectares de pasto degradado. Isso representa um grande prejuízo para a atmosfera e para a questão da saúde pública. Na verdade, a pastagem degradada não é um problema, mas uma oportunidade. O Brasil é bem conceituado mundialmente pela produção que apresenta. Temos condições de produzir ainda mais, porém falta um impulso para isso. Se o país quiser se estabelecer realmente como um celeiro do mundo, a questão de áreas degradadas deve ser considerada uma prioridade.

Portal Dia de Campo - Uma legislação mais rigorosa poderia ser a saída para privilegiar os interesses coletivos em detrimento dos individuais?

João K - Nossas políticas deveriam incentivar ou mesmo punir, em alguns casos, esses produtores que ampliam e degradam suas áreas. Por parte do governo, falta coibir a expansão das áreas degradadas com o aumento de impostos. A legislação existe, mas não é aplicada. Segundo os dados do IBGE, são poucas as áreas degradas no Brasil porque ninguém vai fornecer um dado que será punitivo para si próprio.

Portal Dia de Campo - Sobre o Programa ABC, por que tem uma adesão tão baixa? Falta divulgação ou o acesso ao credito está difícil ou pouco atrativo? O que mudar?

João K - O Programa ABC foi o melhor programa já instituído pelo governo em toda a história porque ele atende todas as reivindicações de sustentabilidade. O crédito oferecido é bom e a divulgação também. Mas a adesão ainda é muito baixa por falta de conscientização dos produtores.

Portal Dia de Campo - A distância de algumas fronteiras, encarecendo o frete, enquanto há áreas degradadas em regiões bem mais próximas, representa uma discrepância no cenário produtivo brasileiro. O que essa área subaproveitada pode significar para o agronegócio brasileiro?
 
João K - Isso representa um “custo Brasil” bastante violento e é um dos principais problemas hoje. Esse custo aumentará ainda mais se não começarmos a recuperar as áreas degradadas que, geralmente, estão circundadas por regiões agrícolas de altíssima qualidade. 

Portal Dia de Campo - O que falta para acabar com a cultura extrativista no país?

João K - Uma das principais alternativas é mudar o homem. Prova disso é que, em regiões muito arenosas, como São Paulo e Paraná, existem produtores altamente sustentáveis. Acho também que o governo tem responsabilidade nesse aspecto. Ainda existe o conceito do homem rural como um homem devastador, enquanto que na grande maioria, são heróis.
 

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Adilson Reinaldo Kososki
06/07/2012 - 11:36
O nosso colega da Embrapa tem razão nas suas colocações. Mas, é parte do problema. Faltam projetos.A cultura brasileira nessa área é a de lançar planos e programas em nível de país sem completar o ciclo necessário para o sucesso - eles devem ser estimulados nãosó pelo seuç conteúdo mas apoiados a sua implatanção nocampo que é a fase final e concreta da mudança.

Ronaldo Trecenti
06/07/2012 - 11:55
Parabéns pela entrevista corajosa, clara e objetiva. Creio que falta ampla divulgação da linha de crédito envolvendoas as entidades dos produtores (CNA, OCB e associações); implantar unidades demonstrativas para validação local/regional; capacitar os analistas de crédito rural; reduzir as garantias para financiamento e implantar o seguro renda rural.

Adriel F. da Fonseca
06/07/2012 - 23:50
Parabéns pela franqueza Dr. João K. Realmente, os pecuaristas precisam deixar a cultura extrativista.
Todavia, devemos salientar que um dos aspectos importantes para a mudança desse cenário é o fornecimento de mão-de-obra qualificada para resolver a questão. Nesse aspecto, são poucos os cursos de graduação e pós-graduação em Agronomia e Zootecnia que concentram esforços a formar profissionais capazes de trabalhar com sistemas integrados de produção. Precisamos investir mais na formação de mão-de-obra graduada e pós-graduada para resolução do problema.

PROF LANGE, SOLOS, UFMT SINOP
08/07/2012 - 11:46
Também parabelizo o colega J.K. Em relação ao ILPF, a tecnologia tem resultados em todo o país. Vejo um problema, como sempre, burocratico, para a maior adesão. O acesso ao credito ABC existe, porém, os projetos deveriam "encontrar" um caminho mais fácil para serem aprovados. Um bom projeto, feito por um eng. agr. responsavel da propriedade poderia simplesmente ser apresentado ao banco pelo produtor e este ser ou não aprovado. Porém ao ir ao banco, o produtor muitas vezes não encontra quem o faça e, se existe, falta o conhecimento tecnico para o correto manejo (implantação e condução).

Gustavo Spadotti Amaral Castro
10/07/2012 - 13:33
João K. sem grandes rodeios tocou em uma ferida que ainda levará muitos anos para cicatrizar. Falta muito profissionalismo para a pecuária nacional, especialmente quando colocamos o foco nos pequenos-médios pecuaristas. Parabéns mais uma vez.

marco antonio de paula
11/07/2012 - 15:36
Prezado Dr João K., não sou agrônomo e nem técnico, porem estou a sete anos em uma empresa que produz e comercializa sementes de pastagem,como o Dr. fala acima e nossa empresa também vê esta dificuldade, precisa-se de maior divulgação, orientação, preparo das entidades em receber o pequeno e médio pecuarista que nunca ouviu falar em ILP ou ILPF esclarecer de maneira simples que eles sempre terão a ganhar, porém, nunca é facil, muitos manejos são histórico de familia, demosntrar que a mudança é para melhor, vejo este o grande desafio, e como somos brasileiros, não desistimos nunca, obrigado pela matéria.
Abraço

quincas
10/12/2012 - 01:16
do meu ponto de vista e de forma sucinta, produzir no Brasil é um problema, principalmente no setor agropecuário. Existe um risco econômico muito grande quando se opta pelo emprego de novas tecnologias, pois mesmo com resultados positivos em termos de produtividade, pode haver frustração na comercialização do excedente gerado pela tecnologia. Dentro deste contexto, economicamente para o pecuarista é muito mais cômodo e seguro soltar o bovino em um pasto, dar sal e vacinas e esperar as arrobas chegarem. A agropecuária brasileira só vai evoluir efetivamente quando o ganho em produtividade for compensado economicamente na sua comercialização. É o que acontece atualmente com algumas commodities, cuja produção absorve alta tecnologia, a qual infelizmente, toda importada. Um dos primeiros passos rumo à esse sonho é resgatar, valorizar e investir em P&D no país. O segundo, desenvolver políticas públicas para o setor sustentadas por fundamentos técnicos-científicos, e não políticos.

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