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Saturação com fósforo e sua relação com a química e a fertilidade dos solos
A demanda de fósforo pelas plantas não corresponde à aplicação de fertilizantes fosfatados. Em outras palavras, o produtor rural aplica mais fósforo do que a planta efetivamente necessita
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Cesar Crispim Vilar, Antonio Carlos S. da Costa, Ivan Granemann Junior e Alini Taichi Machado
26/09/2013

O fósforo é de longe o elemento mais estudado quando se pensa na dinâmica dos nutrientes em solos altamente intemperizados. Isso ocorre porque esses solos são grandes drenos desse elemento.

A demanda de fósforo pelas plantas não corresponde à aplicação de fertilizantes fosfatados. Ou seja, o produtor rural aplica mais fósforo do que a planta necessita para o seu crescimento, desenvolvimento e consequente produção. Nesse sentido, surgem algumas perguntas que merecem nossa atenção:

1) É possível que ocorra a saturação dos solos por fósforo através da aplicação de fertilizantes em excesso com o passar do tempo?

2) Existem metodologias apropriadas para avaliar o nível de saturação ou o grau de saturação por fósforo do solo?

3) Quais as possíveis implicações do excesso de fósforo na qualidade química, física e ambiental desses solos?

A resposta à primeira pergunta é que a saturação dos solos por fósforo é possível. Não só é uma possibilidade, como também, uma realidade em alguns ambientes pelo mundo. Exemplos disso são alguns solos do distrito de Suwannee – Flórida - Estados Unidos da América. No caso desses solos tanto o horizonte superficial quanto o subsuperficial de algumas amostras já estão saturados. Isto ocorreu principalmente por apresentarem textura arenosa (veja no link: http://soils.ifas.ufl.edu/department/briefs/sws02-03.pdf).

A saturação dos solos por fósforo pode ser mais iminente em solos arenosos, que apresentam menor fator capacidade para o fósforo, ou seja, menor capacidade máxima de adsorção de fósforo (CMAP). Pode também ter diversos efeitos sobre seus atributos. Por isso, é importante saber como avaliar o grau de saturação por fósforo que o solo apresenta em determinado momento.

A avaliação do nível de fósforo nos solos pode ser feita através de diversos extratores, dependendo do interesse. As duas principais metodologias utilizadas no Brasil, para a avaliação dos teores disponíveis às plantas são: Mehlich-1 e resina trocadora de ânions.

No caso da adsorção deve-se utilizar uma metodologia que estima a quantidade de fósforo adsorvido. Uma das metodologias mais utilizadas para esse fim é a extração do fósforo pelo método do oxalato ácido de amônio (Pox). Para se obter um índice denominado índice de saturação por fósforo (ISP), deve-se calcular quanto da CMAP está realmente saturada por fósforo. Esse valor pode ser obtido utilizando o seguinte modelo:

ISP1 = Pox/CMAP

O ISP também pode ser estimado de outra maneira. Essa outra metodologia baseia-se na idéia de que a interação entre os minerais constituintes do solo é que produz a CMAP dele. Nos solos altamente intemperizados os óxidos de ferro e alumínio são os principais adsorventes. Por isso, o ISP pode ser estimado utilizando uma relação entre os teores de ferro, alumínio e fósforo extraídos por oxalato ácido de amônio (Feo, Alo e Pox):

ISP2 = Pox/Feo+Alo

Embora seja útil a determinação desses índices, é sabido que a adsorção nos solos depende de outros fatores como do tempo de reação, pH, concentração de fósforo e natureza do solo, entre outros. Com isso, torna-se mais apropriado o uso do grau de saturação por fósforo (GSP). A estimativa do GSP leva em consideração a influência dos fatores ambientais (α). Para tanto, o modelo para sua estimativa adquire a seguinte forma:

GSP = Pox/α(Feo+Alo)

Quanto maior os ISP ou o GSP, maior a saturação por fósforo. Os ISP e o GSP podem ser expressos em porcentagem. Quanto menor o valor menos saturado o solo estará.

Algumas implicações são esperadas quando se aumenta a saturação do solo por fósforo. A maior preocupação está na contaminação de águas superficiais e subsuperficiais. O solo mais saturado por fósforo pode ser erodido e com isso carregar junto a ele uma maior quantidade do elemento. Por outro lado, solos mais saturados têm menor capacidade de adsorção em relação aos menos saturados. Com isso, em solos mais saturados, o fósforo pode permanecer em maiores concentrações em solução ou solúvel em água o que favorece sua lixiviação. A contaminação das águas pelo fósforo é um problema ambiental muito estudado, pois causa a sua eutrofização.

Outra alteração é o aparecimento de cargas negativas na superfície dos minerais. Uma maior saturação do solo por fosfato causa uma maior dispersão de seus constituintes, pois as cargas negativas criadas pela adsorção desse ânion tendem a se repulsar. O problema da dispersão é que o solo fica mais exposto ao risco de erosão. No entanto, uma maior saturação por fósforo pode trazer alguns benefícios ambientais. As cargas negativas criadas na superfície dos colóides podem adsorver metais pesados catiônicos que poderiam lixiviar contaminando águas subterrâneas.

Solos tratados com resíduos que apresentam concentrações elevadas de Fe e Al podem suportar maior quantidade de fósforo, pois tendem a aumentar a CMAP desses solos. Porém, solos tratados com resíduos orgânicos, podem facilitar a lixiviação desse elemento, pois a matéria orgânica adicionada obstrui a superfície que poderia adsorver-lo.

Os aspectos discutidos acima estão longe de exaurir o tema proposto. Principalmente pela complexidade da composição do solo, principalmente solos argilosos. De forma geral, a saturação por fósforo se aplica em solos mais arenosos e pode causar, como exposto acima, problemas ambientais.

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Gustavo Spadotti Amaral Castro
28/09/2013 - 12:04
Estamos falando sobre solos brasileiros (predominados por óxidos de ferro e alumínio) onde a fixação de P é altíssima, ou de solos de clima temperado, como o caso citado dos EUA?

Pensar na movimentação de P em alguns centímetros de solos intemperizados como o nosso já é possivel, basicamente em solos bem corrigidos em SPD com grande produção de palha.

Agora pensar na contaminação do lençol freático (alguns bons metros da superfície do solo) é um tanto quanto questionável. Gostaria da opinião dos autores sobre isso.

Gustavo Castro
Embrapa Amapá

alcindopastore@hotmail.com
29/09/2013 - 09:30
É!! como disse um caro colega meu: "No dia em que entendermos 10% do que acontece dentro de uma planta, então estaremos aptos a falar da química Ideal do solo". Que é a fonte de elementos necessários, visando a alimentação e fixação de carbono pelas plantas, sendo que cada uma das espécies, tem necessidades diferenciadas, por isso ocorre com maior frequência em diferentes tipos de solo e ainda se adaptam melhor a diferentes sistemas de plantio.
Então o que podemos por hora é conhecer bem nossas culturas e tentar adaptar a nossa base, o solo, ao que colocamos de cultivo sobre ele, e vamos em frente!!!
produzir é necessário, obter lucros também,redistribuir com equidade é que é difícil, o importante é andar sempre em rumo a menor dependência externa da propriedade e do País.

Há casos e locais onde se pode cultivar uma cultura anual sem adicionar absolutamente nada de fósforo ao solo por vários anos. Mas se neste mesmo local, desejamos cultivar 3 culturas anuais, ai temos que retornar no mínimo a quantidade extraída, do contrário estaremos erodindo o nosso solo para o exterior, em forma de alimento barato, isso não ajuda ninguém, além dos irmãos chineses ou asiáticos. hahahahaha!

Cesar Crispim Vilar
01/10/2013 - 10:00
Caro Gustavo Castro,

Primeiro, agradeço sua leitura e comentário.

O texto que escrevemos tem como objetivo mostrar que existe a possibilidade de saturação de solos por fósforo e têm como estimá-la.

Não é o objetivo falar que a saturação por fósforo em solos argilosos e com alto grau de intemperismo seja possível. Na verdade, longe disso. Solos argilosos e com alto teores de oxihidróxidos de Fe e Al têm uma grande capacidade máxima de adsorção de fósforo (CMAP), ás vezes maior do que 2.000 mg kg-1. Nesses solos seriam necessárias algumas dezenas de toneladas de P2O5 para saturação.

Embora nos solos argilosos muito intemperizados a saturação seja improvável, temos que lembrar que no Brasil também ocorrem solos argilosos pouco intemperizados. Esses solos podem apresentar uma baixa CMAP, menor do que 50 mg kg-1. A ocorrência desses solos em áreas agrícolas pode ser questionada, sendo mais comum em áreas de várzea, devem corresponder a menos de 5% da área agrícola.

Ainda devemos levar em consideração a ocorrência de solos arenosos (mais de 75% de areia). Solos arenosos têm ampla ocorrência no Brasil (somente os Neossolos Quartzarênicos representam 11% da área total e 15% da dos cerrados). Em solos arenosos a CMAP também é muito baixa, muitas vezes menor do que 30 mg kg-1.

Existem no Brasil poucos trabalhos que discutem a mobilidade, disponibilidade ou saturação por fósforo em solos com baixo teor de argila ou com argila de atividade alta.

Nós escrevemos o texto com o intuito de incentivar a pesquisa e alertar os técnicos de que a saturação é provável, principalmente em solos arenosos, como citado no texto. Escremos isso com base em trabalhos que têm sido realizados em nosso grupo, utilizando solos que apresentam ampla variação de textura e mineralogia.

Espero ter esclarecido os questionamentos. Novamente obrigado pelo comentário. Caso queria entrar em contato direto meu email é: cesarcvilar@gmail.com.

Att. Cesar Crispim Vilar.

Gustavo Spadotti Amaral Castro
01/10/2013 - 12:11
Perfeito meu amigo. Muito obrigado pelo explicação!

Estudei aplicação de silicato e calcário em solos argilosos e observamos pequeno aumento dos teores disponíveis (resina) e uma tendencia de movimentação do P do solo, contudo, apenas de uma camada para outra (5cm).

Um abraço e continue empenhado neste trabalho.

Rômulo Alexandrino
22/08/2016 - 20:34
Por aqui (área ambiental)tenho a análise de lodo/biosólido que contém elevado toer de fosforo que contribuiu para o alto valor de P disponível no solo, decorrente do uso contínuo da disposição do lodo no solo sem conter cultura vegetativa. Constatou 83,3 mg/kg de P mehlich (acima do nível crítico agronômico),no solo de textura média na profundidade de 20-40 cm e 56,3 na profundidade de 0-20. Assim trouxe o potencial para que eu pudesse calcular a CMAP e GSP.
Entretanto no local da área não se encontra água superficial e a água subterrânea encontra-se acimada de 4 metros de profundidade, o que não demonstrou potencial de eutrofização das águas.
Além do fósforo não ser um elemento que causa riscos à saúde humana. Considerei o importante do desbalanço nutricional do solo e desta forma atentar com o volume de disposição de resíduo, ou inserir vegetação para tentar extrair parte do P ou fazer o pousio da área. Entretanto gostaria de obter mais informações à respeito do excesso de P nestas áreas de disposição de resíduos e ao mesmo atentar demais áreas que utilizam erroneamente doses excessivas de P. esta é uma boa discussão e parabéns a todos pelo empenho.

Rômulo Alexandrino
22/08/2016 - 20:39
Atenciosamente,
Rômulo Alexandrino
Eng. Agrônomo - Gestão de áreas contaminadas de MG. FEAM
romuloalexandrino@yahoo.com.br

SILVIO ALVES DA SILVA FILHO
21/12/2017 - 20:24
MANDEI FAZER ANALISE DO SOLO AQUI NA MINHA PROPRIEDADE, E FOI CONSTATADO ALTA CONCENTRAÇÃO DE FOSFORO. COMO DEVO CORRIGIR ESES EXCESSO DE MINERAL? ATÉ PORQUE, VARIA PALANTAAS COMO ABACATEIRO, JACA, E MANGA, ESTÃO QUEIMANDO AS FOLHAS E MORRENDO, E SUSPEITO QUE Á A ALTA QUANTIDADE DE FOSFORO.

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