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Felipe Rosa, Embrapa Amazônia Ocidental
26/05/2015
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Principal produtor de guaraná do Brasil, a Bahia (BA) tem visto problemas com pragas e doenças causarem danos à cultura nos últimos anos. Comuns às regiões do Amazonas (AM), centro de origem do fruto, ameaças como a antracnose, o complexo superbrotamento e o tripes, bem como suas principais consequências – a redução de produtividade dos plantios – são novidades para os cultivos baianos e vêm diminuindo de forma significativa a renda dos produtores locais.
Visando mitigar esses problemas e dar novo impulso à cultura do guaraná na Bahia, uma parceria entre Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac/BA) e governo estadual, além dos produtores locais, começa a se desenhar. No mês de abril, o pesquisador Lucio Pereira Santos, da Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus/AM), esteve a convite de produtores e autoridades baianas elaborando um diagnóstico técnico sobre as condições atuais dos plantios de guaraná nas fazendas Karina e Jacarandá.
"Os plantios visitados representam bem a realidade da região produtora, no Baixo Sul da Bahia, conhecida também como Costa do Dendê, envolvendo, principalmente, os municípios de Ituberá, Nilo Peçanha, Taperoá e Valença", informou Lucio. As fazendas Karina e Jacarandá ficam em Ituberá e pertencem à Guaranápis – empresa que atua praticamente em todos os segmentos da cadeia produtiva do guaraná, com atividades desde a produção da matéria-prima no campo, passando pelo processamento e obtenção de diversas formas de produtos para o consumo, e completando a cadeia por meio da comercialização no mercado nacional e internacional.
Conforme o diagnóstico técnico, plantas desnutridas e fracas, concorrência de plantas invasoras, estabelecimento de agentes patogênicos e de insetos-praga e declínio geral das plantas foram os principais problemas encontrados nos plantios. "Pelo fato de a visita ter se dado em época não coincidente com o período reprodutivo das plantas, a doença conhecida com complexo superbrotamento, que no caso da Bahia parece estar se manifestando mais em tecidos reprodutivos, não pôde ser observada", destacou o pesquisador. No entanto, em área de 21 hectares no município de Taperoá, em novembro de 2013, foram observadas plantas com sintomas de superbrotamento nas gemas florais e vegetativas durante a fase de floração.
Depois do diagnóstico realizado pelo pesquisador da Embrapa e de diversas reuniões, algumas importantes alternativas para a cultura do guaraná na Bahia vêm sendo apresentadas, como a celebração de um contrato de cooperação técnico-científica e financeira entre as instituições Embrapa, Secretaria de Estado da Agricultura da Bahia e Ceplac/BA. "Por meio dessa tríplice parceria será possível viabilizar ações de pesquisa nas condições da Bahia e transferência e adaptação de tecnologias às condições daquele Estado", destacou o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental.
Outra importante ação aconteceu durante a reunião da Câmara Setorial do Guaraná da Bahia, realizada em maio, quando o governo estadual baiano deliberou para realização de um Dia de Campo sobre o tema, com previsão para acontecer na segunda quinzena do mês de julho deste ano. "Esse evento deve abordar temas mais urgentes e contundentes ligados à realidade atual dos problemas nos plantios dos produtores baianos. Para que no presente os prejuízos possam ser mitigados, enquanto outras ações surtam efeitos em médio e longo prazos", disse Lucio. Outra deliberação importante da reunião foi para realização do I Congresso Brasileiro do Guaraná. Este evento deve acontecer em março de 2016.
Conforme Gerval Neves, secretário-executivo da Câmara Setorial do Guaraná da Bahia, a parceria com a Embrapa é importante para levar ao agricultor familiar tecnologias de ponta para melhorar a produtividade dos plantios e a qualidade do produto final. "Há muito tempo estamos tentando uma parceria com a Embrapa Amazônia Ocidental, haja vista que o centro de pesquisa detém o maior acervo de conhecimento e desenvolvimento tecnológico da Cadeia Produtiva do Guaraná", destacou.
Dados e mercado amplo
A produção brasileira de guaraná estimada para 2015 pelo IBGE é de 3,6 mil toneladas, em uma área colhida de 11.796 hectares. O Estado da Bahia, que conta com 15 mil famílias produtoras do fruto, lidera o ranking, com estimativa de produção neste ano de 2,6 mil toneladas, seguido pelo Amazonas, com 855 toneladas. A indústria de refrigerantes e sucos é atualmente o grande mercado para o guaraná e a tendência é que a demanda pelo fruto para este nicho continue crescendo. Mas não é só isso: as indústrias de fármacos e cosméticos são segmentos promissores para exploração econômica do guaraná como fonte de cafeína. Além das possibilidades comerciais no Brasil, há também mercado a ser explorado no exterior, que cada vez mais se interessa pelas propriedades do fruto
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