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Diva Gonçalves, Embrapa Acre
18/08/2016
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A integração de atividades produtivas como alternativa para melhorar a produção e conservar o meio ambiente tem despertado o interesse de diferentes setores nas diversas regiões brasileiras. Para saber mais sobre como produzir de forma integrada agricultores familiares, técnicos que atuam no apoio à produção rural do Acre e estudantes de pós-graduação da área florestal e afins participam do curso "Iniciativas tecnológicas para a integração lavoura-pecuária-floresta", nestas quinta e sexta-feira, dias 18 e 19 de agosto. Realizada pela Embrapa (Rio Branco/AC), a capacitação visa proporcionar conhecimentos para viabilizar a implantação destes sistemas em áreas de pastagem de baixa produtividade.
O curso faz parte do cronograma de capacitações coordenado pela Secretaria de Estado de Agropecuária (Seap), que tem como objetivo viabilizar o acesso a conhecimentos técnicos para possibilitar o uso da ILPF e de outras práticas agrícolas e pecuárias como alternativas para cumprimento das metas do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono) no Acre. "A ideia é formar multiplicadores que vão apoiar o processo de adoção de sistemas integrados, com foco no aumento da produção e da renda das famílias rurais", diz o analista Bruno Pena, supervisor da área de transferência de tecnologias da Embrapa.
Os participantes vão conhecer as etapas e estratégias de implantação de diferentes modelos de integração, práticas agrícolas, como o plantio direto, e de produção pecuária, como a arborização de pastagens, além dos componentes agrícolas que compõem esses sistemas, atributos e implicações agronômicas dos solos entre outros conteúdos relacionados à temática.
Segundo o pesquisador Tadário Kamel, responsável pelos estudos com ILPF no Acre e um dos instrutores da capacitação, a integração lavoura-pecuária-floresta é uma estratégia de produção sustentável que permite associar atividades produtivas. Uma das principais estratégias para implantação destes sistemas é o plantio de árvores, em diferentes espaçamentos, com cultivo agrícola nas entrelinhas. No caso do cultivo de milho, normalmente se utiliza plantio convencional no primeiro ciclo produtivo e plantio direto na segunda safra (milho safrinha), com implantação da pastagem junto com a última safra agrícola.
"Os sistemas integrados apresentam uma série de vantagens em relação a sistemas produtivos convencionais e possibilitam o atendimento a diferentes demandas produtivas. Além de diversificar as atividades rurais, permitem produzir de forma contínua e escalonada, ou seja, em um mesmo ano agrícola é possível produzir grãos, carne ou leite, madeira e frutos. Isso proporciona melhor aproveitamento da área e contribui para a proteção de florestas nativas", afirma Kamel.
Outro aspecto importante da capacitação são os conhecimentos sobre solo. O engenheiro agrônomo Nilson Bardales, bolsista na Embrapa, vai abordar características desse recurso que devem ser considerados em qualquer atividade produtiva como cor, textura, estrutura, fertilidade natural e potencial para processos erosivos e compactação. Conforme explica o especialista, os solos escuros geralmente indicam alto teor de matéria orgânica, essencial para a implantação e condução dos sistemas integrados. Já a textura indica níveis variados de presença de areia, silte e argila, elementos fundamentais para o bom desenvolvimento das culturas que irão compor o sistema e que podem influencia em maior ou menor grau o processo de erosão da área. "Por ser um recurso natural não renovável e um componente muito variável, o solo deve ser manejado adequadamente, de acordo com suas características. Conhecer bem este recurso ajuda a definir a melhor modalidade de ILPF e a reduzir os riscos de degradação", ressalta Bardales.
Visitas a campo
Em propriedades rurais da Amazônia a adoção de sistemas integrados está fortemente associada à necessidade de fortalecer a agricultura familiar. Os sistemas integrados representam uma forma eficiente de elevar a produtividade pecuária e garantir continuidade à produção agrícola. No dia 18, pela manhã, o curso inclui visitas a áreas rurais para conhecer experiências e resultados de pesquisas da Embrapa com ILPF.
O agricultor João Evangelista, localizada na Vila Pia, município de Senador Guiomard (AC), abre as portas da sua propriedade para compartilhar a experiência com ILPF, iniciadas em 2009, com a implantação da primeira Unidade de Referência Tecnológica (URT) em integração lavoura-pecuária-floresta, pela Embrapa Acre. Ele associou o plantio de árvores com o cultivo de milho e, em um segundo momento implantou a pastagem. A produção de milho superou em 60% a média de produtividade do estado "No primeiro ano a produção de milho comum foi de cinco toneladas por hectare, evoluindo para sete toneladas em anos seguintes", diz.
No Assentamento Moreno Maia (Rio Branco) a agricultora Francineide Paiva da Silva (a dona Boneca), vai mostrar aos participantes do curso como a associação da lavoura com o plantio de árvores possibilitou sua permanecer na agricultura. Antes de usar o sistema, o solo da propriedade apresentava elevado estágio de degradação e a terra seca dificultava o cultivo agrícola.
Em 2013, orientada por pesquisadores da Embrapa, a família Silva apostou no cultivo sucessivo de feijão, milho, mandioca e melancia integrado com a pastagem e diferentes espécies florestais. "Voltamos a produzir e colhemos 2.250 quilos de feijão em um plantio de dois hectares. Agora servimos de exemplo para outros produtores que também querem adotar o sistema", conta.
Plano ABC
Estudos comprovam que a integração lavoura-pecuária-floresta ajuda a recuperar a fertilidade do solo e torna as atividades produtivas mais rentáveis. Em termos ambientais, por possibilitar o acúmulo de biomassa e matéria orgânica no solo a ILPF contribui para o sequestro de carbono, aspecto que ajuda a reduzir a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera ocasionada também pela degradação do solo.
Devido aos seus inúmeros benefícios a ILPF compõe o rol de tecnologias que podem ajudar a cumprir compromissos voluntários assumidos pelo Brasil na COP-15, que resultaram na criação do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em 2011. Executada com a participação de diversos estados, a iniciativa tem entre suas metas incentivar e apoiar o uso de sistemas integrados como estratégia para reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa em 43%, até 2030. A previsão é que até 2020 sejam implantados quatro milhões de hectares de ILPF e recuperados15 milhões de hectares de pastagens degradadas, em diferentes regiões.
O solo degradado é consequência da perda de sua capacidade de continuar produtivo e reter CO2. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil possui cerca de 30 milhões de hectares de áreas de pastagens em algum estágio de degradação, problema que reduz a oferta de alimento de qualidade para o rebanho, reduzindo a produtividade de carne e leite. No Acre, estimativas indicam que existem 500 mil hectares de pastagens degradadas ou em processo de degradação e grande parte dos agricultores familiares deixa de recuperar essas áreas devido ao elevado custo dos insumos no mercado local.
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