Lineu Neiva Rodrigues, pesquisador da Embrapa Cerrados e coordenador da rede Agrohidro 24/11/2016

Segurança alimentar é um dos maiores desafios da humanidade neste século. Embora se tenha observado nas últimas décadas um aumento significativo da produção mundial de alimentos, a desnutrição e a insegurança alimentar continuam em níveis inaceitáveis. Alguns fatores característicos do mundo atual, tais como o crescimento da população e da demanda por alimentos, a redução na disponibilidade de terras aráveis e de recursos hídricos, as mudanças climáticas, a multifuncionalidade da agricultura e as assimetrias no crescimento populacional e na produção de alimentos, contribuem para agravar ainda mais essa situação.

O desafio atual da agricultura mundial consiste em aumentar a produção de alimentos sem aumentar os impactos negativos ao meio ambiente. É certo que o incremento de produção necessária para suprir o aumento de demanda terá de vir da intensificação de terras agrícolas já existentes. Algumas perguntas ainda precisam ser respondidas, tais como: (i) quanto a agricultura pode ser intensificada e ainda ser sustentável? (ii) Qual o impacto das mudanças no clima, do uso e da cobertura da terra nos recursos hídricos nos diferentes biomas brasileiros e os seus efeitos na sustentabilidade ambiental e econômica das comunidades rurais?

Para debater essas e outras questões relacionadas ao tema água na agricultura e produção sustentável de alimentos, foi realizado, em Brasília, de 17 a 20 de outubro, o IV Seminário da Rede Agrohidro, que contou com a presença de 63 participantes de 16 instituições e de 13 centros de pesquisa da Embrapa, além da Embrapa Sede. Durante esse seminário, foram apresentadas 17 palestras e apresentados 32 artigos científicos.

Os debates realizados durante o seminário evidenciaram que a sustentabilidade ainda é um grande desafio. A contaminação dos recursos hídricos por poluentes orgânicos e metais pesados é um problema crescente em diversas bacias hidrográficas, aumentando a importância de estudos hidrogeoquímicos, principalmente em mananciais próximos a grandes centros urbanos. Cada vez mais, as ferramentas de suporte à decisão terão papel crucial na redução dos conflitos e do risco, mas para isso teremos de ter bases de dados mais consistentes e representativas das regiões. Independente dos avanços que foram observados em outras áreas do conhecimento, como a biotecnologia, produzir alimento continuará a demandar quantidades significativas de água, recurso que, por sua vez, é de grande importância também para outros setores da sociedade. Por isso, será cada vez mais importante tratar a água como um bem estratégico para o país e, dessa forma, integrar a Política Nacional de Recursos Hídricos com as demais políticas públicas, principalmente a de segurança alimentar.

Durante o evento ficou evidente também que será cada vez mais estratégico aperfeiçoar a forma como a água é manejada na bacia, o que envolve a adoção de tecnologias e procedimentos adequados para cada situação. Esse aperfeiçoamento poderá levar ao aumento da produtividade da água, que, em um conceito amplo, significa obter um maior valor ou benefício de cada unidade de volume de água utilizado por unidade de área. Nesse contexto, sistemas de produção agropecuária que promovam a sustentabilidade nos âmbitos social, econômico e ambiental apresentam-se como soluções cuja eficácia pode ser avaliada por meio de monitoramento dos recursos hídricos em bacias hidrográficas experimentais.

A rede Agrohidro, proposta inicialmente por um grupo de pesquisadores da Embrapa, em virtude dos desafios associados às crises de suprimento de alimentos e de água no mundo, após o IV Seminário, entra em fase de avaliação estratégias e definição de novas parcerias e projetos.