dia de campo

a
Esqueceu a senha?
Quero me cadastrar
     18/04/2024            
 
 
    
Forrageiras  
Pesquisa desenvolve braquiária híbrida resistente a cigarrinhas
Material é aproximadamente 13% melhor em qualidade nutricional que o capim Marandu, o mais utilizado no Brasil
Comente esta notícia Envie a um amigo Aponte Erros Imprimir  
Dalízia Aguiar, Embrapa Gado de Corte
13/03/2017

Ipyporã na língua guarani significa “belo começo” e essa é a intenção da equipe de pesquisadores da Embrapa ao desenvolver o primeiro híbrido de braquiária da Empresa, a BRS RB331 Ipyporã. A cultivar é resultado do cruzamento de Brachiaria ruziziensis (R) com Brachiaria brizantha (B) e reúne as melhores características de cada uma delas, na opinião dos envolvidos na criação do material e que a consideram um novo início para as pesquisas em melhoramento de braquiárias no País.

“A cultivar apresenta a excelente resistência a cigarrinhas de uma B. brizantha e o alto valor nutritivo da B. ruziziensis”, revela a melhorista da Embrapa Cacilda Borges do Valle. O material é aproximadamente 13% melhor em qualidade nutricional que o capim mais utilizado no Brasil, o Marandu, e isso proporciona um ganho de peso por animal maior, ao redor de 17%. Ela ressalta ainda o fato de ser o primeiro híbrido de braquiária desenvolvido pela Embrapa em parceria com a Associação para o Fomento à Pesquisa de Forrageiras (Unipasto), fortalecendo o Brasil como o único país que faz melhoramento genético do gênero.

A pesquisadora detalha que o cruzamento, realizado na Embrapa em Campo Grande (MS), destacou-se entre 1.500 outros híbridos e após 13 anos intermitentes de avaliações liberou-se o uso comercial. “O novo híbrido é um marco para a pesquisa, por ser um cruzamento direto entre as duas espécies, selecionado por sua persistência, resistência às cigarrinhas e alto teor de folhas”, comemora Valle. Daqui em diante será uma rotina para os pesquisadores o cruzamento por recombinação. “Temos hoje um dinâmico programa de melhoramento com perspectivas muito boas de geração de novas combinações”, resume.

O longo período em teste foi necessário para avaliar resistência a cigarrinhas, resposta à fertilidade, pastejo, tolerância ao encharcamento e multiplicação de sementes. O trabalho envolve pesquisadores da Embrapa Gado de Corte (MS), Embrapa Agrossilvipastoril (MT), Embrapa Agropecuária Oeste (MS), Embrapa Amazônia Oriental (PA), Embrapa Gado de Leite (MG), Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Unipasto para a multiplicação e futura comercialização exclusiva de sementes.

Em uma pecuária intensiva, de ciclo mais curto e animais de categorias mais exigentes, como bezerros desmamados, vacas em terço final de gestação e em lactação, o capim-Ipyporã é uma alternativa para a diversificação da pastagem no bioma Cerrado, recomenda Cacilda. A agrônoma comenta que, nos biomas Amazônia e Mata Atlântica, os ensaios estão em andamento.
 
Assista aqui ao vídeo sobre o novo híbrido

Resistência a cigarrinhas

Além de inovar por ser o primeiro híbrido de braquiária lançado pela Embrapa, a forrageira destaca-se pela resistência a diferentes espécies de cigarrinhas, constatada tanto em relação àquelas típicas das pastagens, como Notozulia entreriana e Deois flavopicta como em duas do gênero Mahanarva - M. fimbriolata, da cana-de-açúcar, e Mahanarva sp.

“Ao constatarmos resistência em uma primeira avaliação, a planta é novamente testada para confirmação. Esse híbrido foi avaliado inúmeras vezes, com diferentes espécies de cigarrinhas e apresentou resultados consistentes”, afirma o entomologista da Embrapa José Raul Valério. Ele explica que a planta pode ser resistente ao inseto por diferentes mecanismos e nos estudos da Embrapa utiliza-se o de antibiose, no qual se mede o efeito da planta no desenvolvimento e na sobrevivência dos insetos. O especialista recorda que o novo material apresentou desde o início dos testes um alto nível de antibiose, o que despertou a atenção da equipe. O uso de gramíneas resistentes como alternativa de controle é uma opção de baixo custo e fácil adoção.

A pesquisa
Nessas avaliações, basicamente, as cigarrinhas são criadas nas plantas e comparadas com plantas testemunhas, reconhecidamente suscetíveis e resistentes. No acompanhamento dos ensaios, que duram o ciclo de vida do inseto, se observa a taxa de sobrevivência: quantos adultos emergem (percentagem) e a duração do período ninfal (tempo para a emergência da cigarrinha adulta). Plantas consideradas mais resistentes por antibiose, como o híbrido Ipyporã, demonstram sobrevivência mais baixa e prolongado período ninfal.

Para reforçar a confiabilidade, em Sinop (MT), região pré-Amazônica, o capim é avaliado desde fevereiro de 2015 na Embrapa Agrossilvipastoril e, enquanto a forrageira testemunha sofre com surtos de cigarrinhas, a nova cultivar não apresenta sintomas de ataque, relata o pesquisador Bruno Pedreira.

Esses insetos são as principais pragas de gramíneas forrageiras e, em níveis populacionais elevados, reduzem o crescimento, a produção e a qualidade do pasto. O cenário se agravou com o aparecimento em pastagens de altas infestações do gênero Mahanarva, comumente associadas, até então, a gramíneas de maior porte como a cana-de-açúcar e o capim-elefante.

Ganhos no pastejo

O desempenho do capim no campo é outro ponto positivo. Após dois anos em avaliação em pastejo rotacionado em Mato Grosso do Sul, concluído em setembro de 2014, a BRS Ipyporã apresentou elevado valor nutritivo e ganho médio diário maior, em comparação com o capim-marandu, o ‘braquiarão’ ou ‘brizantão’, forrageira mais plantada no Brasil, ao redor de 40%, de acordo com informações da Unipasto. 

Nos ensaios, acompanhados pelas pesquisadoras da Embrapa Valéria Pacheco Euclides e Denise Baptaglin Montagner, com duas estações de águas e duas de seca, o valor nutritivo da folha do híbrido teve média de 12,6 % de proteína, 68% de digestibilidade e 67,7% de fibra FDN (fibra insolúvel em detergente neutro). Os números do marandu, por sua vez, foram: 11,1%, 62% e 70%, respectivamente.

Na balança, a média de ganho médio diário (GMD) da BRS Ipyporã foi de 0,675 kg/animal.dia, e de ganho de peso vivo por área (GPVA), 1.150 kg/ha.ano. O braquiarão  alcançou uma média GMD em 0,578 kg/animal.dia e GPVA, 1.190 kg/ha.ano. “A taxa de lotação do marandu é maior e ele cresce mais que a ipyporã, porém o híbrido tem mais qualidade nutricional, a taxa de digestibilidade é alta e consegue-se melhor performance no ganho médio diário. A taxa de lotação do marandu é compensada pelo ganho de peso da ipyporã”, analisa Valéria Pacheco, especialista em manejo de pastagem.

Em Sinop, os experimentos em produção animal são recentes (julho de 2016), e os resultados promissores, segundo Bruno Pedreira, pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril. Ele revela que nos primeiros quatro meses de coleta, o ganho médio diário de novilhos Nelore foi acima de 750 gramas/dia na época seca (junho-setembro/2016), sem nenhum tipo de suplementação alimentar, apenas sal mineral. “Isso demonstra o potencial do material”, afirma Pedreira.

Valéria Pacheco ressalta que quanto mais cedo o animal atingir o peso adequado, menos tempo ficará no pasto e emitirá menos gases de efeito estufa (GEE). Assim, o híbrido traz um ganho adicional, o de mitigador de GEE. Entretanto, a engenheira-agrônoma pondera que a gramínea é recomendada para solos de média fertilidade e não apresenta resistência a solos encharcados. Por esse motivo não é indicada para áreas com problemas de drenagem ou com incidência da síndrome da morte do capim-marandu.
 
Mercado e programa de melhoramento
De acordo com a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), as cultivares com tecnologia Embrapa respondem por mais 60% do mercado de sementes de forrageiras comercializadas no País. Os materiais mais recentes da Empresa no mercado são o híbrido de panicum BRS Tamani, lançado há dois anos; e a braquiária BRS Paiaguás de 2013.

“A quebra em aproximadamente 50% na produção de sementes em 2016 devido a condições climáticas causou uma demanda reprimida para este ano e a expectativa em torno dos lançamentos é grande”, admite o presidente da Unipasto, Pierre Patriat. O agrônomo ratifica a necessidade de diversificação da pastagem, com três ou quatro cultivares na propriedade rural, preconizada pelos especialistas da Embrapa. Ele lembra que a monocultura por décadas do capim-marandu e, posteriormente, mombaça e tanzânia acarretou problemas e as maiores vantagens da diversificação são proteger o produtor rural das adversidades e o meio ambiente de possíveis desequilíbrios.

Outro fator que justifica o aumento na demanda por sementes de forrageiras é o aumento na adoção de sistemas integrados. Vitor Del Alamo, pesquisador da Embrapa Produtos e Mercado (DF), considera que a forrageira inserida como cultura nesses sistemas, usada tanto na produção de palha para plantio direto quanto no pastejo permite projetar um aumento na demanda para os próximos anos.

Ele relembra o pioneirismo da Empresa no desenvolvimento de novos produtos, principalmente em cultivares, que permitiram colocar o Brasil como maior exportador mundial de forragens e domínio no mercado internacional. Para manter-se nessa posição, Sanzio Barrios, melhorista e líder do projeto de melhoramento de braquiárias da Embrapa, destaca que os pesquisadores empreendem ações visando atender à demanda por cultivares alternativas, em busca de maior tolerância a solos com drenagem deficiente, maior resistência à seca e às cigarrinhas-das-pastagens e doenças como a mancha-foliar por Bipolaris.

Aviso Legal
Para fins comerciais e/ou profissionais, em sendo citados os devidos créditos de autoria do material e do Jornal Dia de Campo como fonte original, com remissão para o site do veículo: www.diadecampo.com.br, não há objeção à reprodução total ou parcial de nossos conteúdos em qualquer tipo de mídia. A não observância integral desses critérios, todavia, implica na violação de direitos autorais, conforme Lei Nº 9610, de 19 de fevereiro de 1998, incorrendo em danos morais aos autores.
Ainda não existem comentários para esta matéria.
Para comentar
esta matéria
clique aqui
sem comentários

Conteúdos Relacionados à: Notícia
Palavras-chave

 
11/03/2019
Expodireto Cotrijal 2019
Não-Me-Toque - RS
08/04/2019
Tecnoshow Comigo 2019
Rio Verde - GO
09/04/2019
Simpósio Nacional da Agricultura Digital
Piracicaba - SP
29/04/2019
Agrishow 2019
Ribeirão Preto - SP
14/05/2019
AgroBrasília - Feira Internacional dos Cerrados
Brasília - DF
15/05/2019
Expocafé 2019
Três Pontas - MG
16/07/2019
Minas Láctea 2019
Juiz de Fora


 
 
Palavra-chave
Busca Avançada