Cristina Tordin, Embrapa Meio Ambiente 21/06/2017

A intensificação sustentável dos sistemas agropecuários é uma das principais apostas da agricultura brasileira para aumento de produtividade e redução de impactos ambientais negativos. Os sistemas de integração-lavoura-pecuária-floresta (ILPF) destacam-se à medida que podem ser adotados por uma ampla gama de produtores, dos mais variados níveis tecnológicos. Além de visar a produção rural sustentável, integra as atividades agrícolas, pecuárias e florestais, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, e busca efeitos sinérgicos entre os componentes dos agroecossistemas, contemplando a adequação ambiental, a viabilidade econômica e a valorização das pessoas.

Em estudo realizado em cooperação entre pesquisadores de várias Unidades da Embrapa, foram analisados seis estabelecimentos rurais vinculados à pesquisa como 'Unidades de Referência Técnológica' (URTs), nas cinco regiões do Brasil e com diferentes modalidades de ILPF, incluindo desde empresas rurais de grande porte até estabelecimentos familiares, e desde complexos esquemas de integração até simples integração lavoura-pecuária voltada apenas à reforma de pastagens. Foi utilizado o método Ambitec-Agro, que consiste de módulos integrados de indicadores ambientais para os setores produtivos rurais da agricultura, da produção animal e da agroindústria.

As avaliações indicaram importantes ganhos de produtividade e de eficiência no uso de recursos naturais, geralmente acompanhadas por aumentos no uso de insumos e de energia, representando compensações quanto ao desempenho tecnológico. Foram também observados resultados positivos para as dimensões econômica e social da sustentabilidade, atestando as valiosas contribuições da ILPF para o desempenho geral de todos os estabelecimentos rurais estudados.

Entre as contribuições, constatou-se melhoria no critério qualidade do solo, observado para todos os indicadores, em todos os casos. O aumento da biomassa das áreas de pastejo e a melhor cobertura do solo favorecem a redução da compactação pelo pisoteio dos animais e pelo trânsito de máquinas. Estes efeitos favoreceram marginalmente a qualidade das águas, com redução da turbidez devido ao controle da erosão, enquanto as condições locais e o cuidado nas práticas de manejo contribuíram para que não existissem fontes notáveis de poluentes ou evidências de despejo de resíduos.

Constatou-se também que a ILPF representa tecnologia de intensificação produtiva recomendada para os mais diferentes tipos de estabelecimentos, nas mais variadas condições ambientais, de disponibilidade de recursos naturais, capacidades de investimento, nível de tecnificação e escala de produção.

Dimensão impactos ecológicos
Nessa dimensão são tratados os impactos da ILPF sobre o meio ambiente. Além do aumento da produtividade, ampliaram-se os estoques de carbono no solo e na biomassa vegetal, com o aumento da biodiversidade produtiva.

As melhorias nesses critérios resultaram em reflexos positivos no consumo de água em todas as URTs. Isto é, sob o mesmo regime hídrico e volume de chuvas, houve maior produção de grãos e ganhos de peso dos animais, inferindo elevação de eficiência no consumo de água por unidade de produto. Igualmente, o manejo do solo nas lavouras rotacionadas, implantadas sempre em sistema de plantio direto na palha e com elevados volumes de biomassa, comparativamente aos contextos anteriores, favorecem a infiltração das águas pluviais e aumento do caudal das nascentes, melhorando a captação e o armazenamento de águas superficiais.

No critério emissões à atmosfera, a ILPF favorece o efeito de captura de gases de efeito estufa, como consequência do acúmulo de matéria orgânica no solo, advinda das pastagens recuperadas e dos cultivos consorciados, por produzirem maior quantidade de biomassa em comparação com as situações anteriores. Considerou-se ainda que as pastagens nas áreas de integração permitiram melhoria da nutrição e da eficiência da pecuária, efeito mitigador das emissões de metano entérico pelos animais.

A diversificação da paisagem promovida pela ILPF e práticas associadas resultou em efeitos secundários positivos na conservação da biodiversidade e recuperação ambiental, em todos os casos, principalmente pela recuperação de solos em variados níveis de degradação física e química, e por ações de recuperação de áreas de proteção ambiental, como prevenção de incêndios e atenção aos preceitos do Código Florestal, em função da organização espacial das URTs.

Dimensão impactos socioambientais
Nessa dimensão são abordados os aspectos relativos à contribuição da ILPF para o desenvolvimento local sustentável e para a melhoria contínua dos processos produtivos e de gestão nas URTs estudadas.

O aspecto Respeito ao Consumidor apresentou coeficiente de desempenho positivo, com destaque para o critério relativo ao bem-estar e saúde animal. Melhorias no acesso a alimentos de qualidade, com a recuperação produtiva das pastagens em todas as URTs, foram invariavelmente associadas a correções nas instalações de lida dos rebanhos, favorecendo a salubridade e a sanidade dos ambientes de manejo. Nos casos com integração silvipastoril também se observou grande ganho no conforto térmico.

Um objetivo primordial para a implantação de alternativas produtivas e tecnológicas é obter ganhos no aspecto Renda, o que tem sido encaminhado com extraordinário êxito nas URTs estudadas. Uma vez implantadas as práticas de observou-se maior segurança de obtenção de renda, dada a diversificação produtiva; maior estabilidade da renda, em razão da repartição sazonal das colheitas de grãos, da resiliência das pastagens e da disponibilidade de forragem ao longo do ano; maior diversidade da renda, com as lavouras rotacionadas e consorciadas; e grande aumento no montante anual auferido, tudo isso balizado por importantes ganhos de produtividade.

Esses resultados, entre outros detalhados na pesquisa, atestam as importantes contribuições da ILPF para o desenvolvimento local sustentável, ao favorecer a diversificação agropecuária com conservação ambiental, no atual momento em que a intensificação produtiva se faz tão importante, como mecanismo para melhor aproveitar a capacidade produtiva dos investimentos e dos recursos naturais. Assim, é possível concluir que a ILPF representa tecnologia de intensificação produtiva recomendada para os mais diferentes tipos de estabelecimentos rurais, nas mais variadas condições ambientais, de disponibilidade de recursos, capacidades de investimento, nível de tecnificação e escala de produção.

A pesquisa, disponível aqui, faz parte das atividades vinculadas à Rede de Fomento ILPF, uma parceria público-privada composta atualmente pelas empresas Cocamar, Dow Agroscience, John Deere, Parker, Syngenta e Embrapa.

Os autores da série Documentos 110 são Geraldo Stachetti Rodrigues, Priscila de Oliveira, Renan Lage Novaes, Sandro Marschhausen Pereira, Maria Luiza Nicodemo, Ana Laura Sena, Ernandes Barboza Belchior, Márcio Rogers de Almeida, Anderson Santi e Flávio Jesus Wruck.