Uma alternativa capaz de incrementar a renda nos açudes tem chamado a atenção dos piscicultores catarinenses: o cultivo de camarão-de-água-doce (Macrobrachium roserbergii), também conhecido como gigante da Malásia, no mesmo açude das tilápias. “Devido ao aumento de oferta, pelo setor privado, de pós-larva proveniente de outros estados, principalmente do Paraná e do Espirito Santo, e a uma recente divulgação do sistema de policultivo dessa espécie com a tilápia, muitos piscicultores catarinenses estão apostando nessa alternativa”, conta Bruno Corrêa da Silva, engenheiro de aquicultura do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Epagri/Cedap).
Para avaliar o sistema, extensionistas e pesquisadores da Epagri têm acompanhado de perto duas propriedades de piscicultores, uma em Gaspar e outra em Itajaí, que já adotam a prática. Os produtores, primeiramente, povoaram seus açudes com as pós-larvas de camarão, e as tilápias entraram 15 a 30 dias depois. As densidades utilizadas nessas propriedades são de 10 camarões e 3 tilápias por metro quadrado.
Vantagens produtivas
Nesse sistema, apenas a tilápia é alimentada com ração comercial. “O camarão consome o alimento natural presente no fundo do viveiro devido à adubação proveniente das excretas do peixe ou come restos de ração. Em contrapartida, ele poderia diminuir a matéria orgânica do viveiro gerada no final do cultivo pela tilápia”, explica Bruno.
Outra vantagem é o custo baixo. O gasto adicional do produtor com esse sistema, em comparação com o monocultivo da tilápia, é somente com a compra da pós-larva de camarão. E ao final, a produção pode alcançar 500kg a 700kg de camarão por hectare.
A despesca das duas espécies é realizada de uma vez só, quando a tilápia atinge seu tamanho comercial. Nessa fase, o camarão deve estar com aproximadamente 40g. No norte do Paraná, alguns produtores que já aderiram a esse sistema estão produzindo camarões de 40g a 50g e vendendo o quilo a uma média de R$40 a R$50, na própria fazenda.
Cautela
Mas ainda é cedo para sair apostando todas as fichas nesse modelo. Bruno lembra que há algumas preocupações com o sistema que devem ser levadas em consideração. “O preço da pós-larva está alto para o mercado, em torno de R$200 a R$250 por milheiro, devido à alta procura de forma sazonal, já que a época ideal de povoamento do camarão é entre outubro e novembro”, conta.
A sobrevivência do camarão ao final do cultivo é outro ponto a observar. Muitos piscicultores passam o inverno com a tilápia no viveiro, mas o camarão não é tão resistente ao frio. “Por isso, recomenda-se o povoamento no início da safra e a densidade de tilápia entre 2 a 3 peixes por metro quadrado para alcançar mais rapidamente o peso de venda e conseguir despescar antes do inverno”, diz Bruno.
Além disso, ao contrário da tilápia, o camarão é sensível a baixos níveis de oxigênio na água. Como muitos piscicultores não monitoram esse índice, é comum encontrar valores letais para o camarão nos cultivos de tilápias. A comercialização também é uma incógnita, pois ainda não há mercado bem definido para esse produto.
Apesar das dúvidas que cercam o tema, por conta da novidade do produto e da baixa produção, os especialistas acreditam que a comercialização em Santa Catarina será realizada nas próprias fazendas ou em feiras municipais nas comunidades, como já acontece no norte do Paraná.
|