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Alexandre Kemenes
02/08/2011
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Alguns exploradores do século XIX ficaram impressionados com a extraordinária fertilidade dos solos em algumas regiões centrais da Amazônia. O segredo era a terra preta de índio, com uma aparência que varia de marrom escura a negra, constituição fina e leve, chegando a se apresentar numa camada de até dois metros de espessura.
Os cientistas de solo, arqueologistas e antropólogos que estudaram este material durante muitos anos chegaram à conclusão que a terra preta de índio fora feita por antigas comunidades indígenas residentes locais durante centenas e até milhares de anos. Na região de Manaus existiam na época do descobrimento grandes comunidades de habitantes nativos que cobriam extensas áreas contínuas (entre 05 e 100 hectares).
Devido ao grande número de pedaços de cerâmica, em meio à terra preta, é possível que os locais fossem as cozinhas, depósitos de lixo e banheiros destas antigas moradias. Alguns destes locais podem ter mais de três mil anos e, comparando com os solos próximos, apresentam três vezes mais fósforo e nitrogênio e 10 vezes mais carbono, sendo que um hectare de terra preta pode chegar a ter 200 toneladas de carbono a mais do que num solo vizinho.
A maioria dos cientistas concorda que boa parte deste solo é o resultado de grande acúmulo de carvão vegetal e outros resíduos orgânicos. Dentro deste contexto, as cidades do Nordeste brasileiro dispõem de grande quantidade de resíduos de origem agrícola, material que hoje vem sendo descartado em aterros e lixões, os quais podem ser reaproveitados e transformados em terra preta através do processo de compostagem ou pirólise.
Entretanto, são necessários estudos científicos a fim de estimar o valor agronômico, econômico, ambiental e social do funcionamento destes mecanismos tanto nas cidades quanto em meio rural. Boa parte dos solos da região é considerada pobre e pode ser beneficiada pelo processo de compostagem orgânica. Por este método, o resultado é a rápida decomposição do carbono que fica pouco tempo ausente da atmosfera.
Já o método do biochar (carvão biológico vegetal) é uma solução mais duradoura, pois, além de transformar o solo pobre e arenoso em fértil, mantém o carbono aprisionado, se decompondo lentamente durante centenas e até milhares de anos, ou seja, a técnica tem uma altíssima taxa de sequestro de carbono, contribuindo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e com isso auxiliar a mitigar as contribuições regionais para o processo de aquecimento global.
A temperatura do planeta vem aumentando e causando as mudanças climáticas globais que nada mais são que um reflexo do comportamento atual das pessoas consumindo muito e desperdiçando ainda mais. A humanidade deve buscar a melhor utilização dos recursos disponíveis, a fim de mitigar o processo de aquecimento global, e uma das melhores formas de reutilizar é sequestrar carbono atmosférico por meio de resíduos orgânicos agrícolas no solo.
Alguns pesquisadores estimaram que até o final deste século, se este método for aplicado mundialmente utilizando a maior parte dos resíduos descartados pelo homem, a quantidade de carbono sequestrada através da pirólise e enriquecimento do solo poderão chegar ao dobro do carbono que é emitido hoje na queima de combustíveis fósseis.
Com isso, como daqui a alguns anos teremos o uso de mais bio-combustíveis do que combustíveis fósseis, vamos sequestrar mais carbono do que emiti-lo para a atmosfera, revertendo, com isso, o atual processo de aquecimento global. No entanto, um século não seria muito tempo para realizar etapa tão importante no desenvolvimento atual de nossa sociedade e para a manutenção do meio ambiente natural e preservado?
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