O manejo sustentável da vegetação do Nordeste é uma perspectiva viável para o desenvolvimento regional e a inclusão do componente florestal pode garantir a produção de madeira, carvão, forragem, frutos, fibras, óleos extrativos e medicinais, de forma eficiente e equilibrada. Há séculos ocorre a utilização da vegetação natural, em parte pela extração seletiva das espécies de maior interesse, uso das áreas de Caatinga para pastagem extensiva ou, ainda, pelo desmatamento face à implantação de culturas agrícolas e pastagens cultivadas. No entanto, o sistema tradicional de uso não tem se mostrado capaz de atender à demanda por produtos florestais, principalmente energéticos, sem por em risco o equilíbrio dos ecossistemas.
O Bioma Caatinga encontra-se altamente alterado por atividades antrópicas. Superando 51% de áreas degradadas, é considerado o terceiro bioma brasileiro mais alterado pelo homem.
A utilização da Caatinga para a produção de lenha e carvão tem sido intensiva e desordenada, não havendo prática de reposição florestal. Além da produção para fins energéticos, esse complexo sistema produtivo deveria ser encarado como uma atividade de preservação da biodiversidade, valorizando o seu potencial de suporte social, econômico e ambiental.
A partir da Instrução Normativa Nº 01/94 (BRASIL, 1994) e, posteriormente, das Instruções Normativas Nº 01/98 (BRASIL, 1998) e nº 03/01 (BRASIL, 2001), o IBAMA procurou regular a exploração madeireira da Caatinga, normatizando a elaboração e a apresentação de Planos de Manejo, configuradas como documentos capazes de explicitar os aspectos técnicos do manejo florestal a serem adotados, baseados nos dados do inventário florestal da área.
Por outro lado, entre tantas questões técnicas a serem respondidas para implantação do Manejo Florestal da Caatinga, uma deve ser considerada como prioritária: qual o tamanho ideal da faixa a ser cortada dentro de uma área de manejo, que propicie a regeneração da vegetação arbóreo/arbustiva de maneira a manter uma garantia mínima de manutenção da diversidade de espécies, qualidade do solo e presença de polinizadores?
A implantação de uma Unidade Experimental no Campo Experimental da Caatinga na Embrapa Semiárido está buscando responder este questionamento e esta unidade enquadra-se na estratégia de implementação de uma rede de unidades experimentais de manejo florestal no bioma Caatinga, envolvendo diversas organizações governamentais e não-governamentais, integrantes da Rede de Manejo Florestal da Caatinga (RMFC).
O trabalho faz parte da rede experimental de Parcelas Permanentes dessa Rede, tendo como principal função investigar qual a influência da largura da faixa de corte para a regeneração e recuperação da vegetação nativa, configurando um experimento de longa duração. A abertura da área e realização do inventário inicial foi financiado pelo Ministério do Meio Ambiente, Serviço Florestal Brasileiro – Unidade Nordeste e Embrapa Semiárido.
O diferencial desta unidade da RMFC é a execução da pesquisa por uma equipe multidisciplinar que avaliará o impacto das atividades florestais sobre os fatores bióticos e abióticos e propõe-se a considerá-los para a elaboração de normativas do manejo florestal.
A área foi aberta em dezembro de 2007 a partir do corte raso das espécies, excetuando-se umbuzeiros, aroeiras e baraúnas presentes. As espécies jurema preta (Mimosa tenuiflora) e caatingueira (Poincianella pyramidalis) apresentarem maior densidade absoluta por hectare. O estudo também constatou que espécies arbóreas e arbustivas da caatinga fornecem elevado volume de madeira por hectare, constituindo-se importante fonte energética no semiárido.
A expectativa, pelo acompanhamento da área, é que a recuperação do volume de madeira inicial de 48 m3/ha seja recuperado até 2015.
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