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Agricultura Sustentável      
Técnicas agroecológicas são difundidas em agricultura periurbana de Belém
O pouco conhecimento da população sobre as práticas agroflorestais de cultivo ainda dificulta a utilização e manejo da terra de forma sustentável
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Moisés Modesto Júnior e Raimundo Brabo Alves
25/08/2014

A agricultura periurbana é praticada tanto em cidades pequenas do terceiro mundo, como no coração de megalópolis do mundo industrializado: Amsterdã, Paris, Nova York, Los Angeles e Vancouver. 

Ela também é estratégica em Havana, com 26.000 praticantes, em Moscou (20.000), na Philadelphia, Kampala, cidade do México, Boston, Tirana, Nairobi, Bangkok, Perth, Sidney, Toronto, São Petersburgo, Shangai, Montevidéu, Lima, Buenos Aires, Corrientes e La Paz. Está muito bem organizada e apoiada pelo governo no Canadá, África do Sul, Austrália, Alemanha, Índia e China (INSTITUTO SOLO VIVO, sem ano, acesso em 2005). Até por que as áreas peri-urbanas são ocupadas por grande contingente de agricultores que migram do campo em consequencia do êxodo provocado pela “modernização” da agricultura.
 
No Brasil, resultados parciais de uma pesquisa inédita financiada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), chamada Identificação e Caracterização de Iniciativas de Agricultura Urbana e Peri-urbana (AUP), em regiões metropolitanas brasileiras, resultado de um acordo entre a Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, a ONG peruana Ipes e a cooperação técnica da FAO. O levantamento, feito em Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE), Belém (PA), Goiânia (GO) e Brasília (DF), identificou 635 iniciativas de agricultura urbana, das quais 396 nos municípios-centro e 247 em outros municípios da mesma região metropolitana (MARSICANO, 2007).
 
Com relação à grande Belém, no período de 1986 a 2001, perdeu cerca 201 km2 de sua cobertura florestal, Figuras 1, 2 e 3  (PARANAGUÁ et al. 2003). A maior parte da floresta nativa remanescente está concentrada nas ilhas e em áreas restritas (áreas militares e áreas de instituições públicas de ensino e pesquisa).
 
Dados do IBGE (2010) indicam que Belém-PA possui uma área de 1.065 km2 e população total estimada em 1.392.031 habitantes, sendo 1.380.836 habitantes morando na cidade e 11.195 pessoas habitando a zona rural, considerada peri-urbana. Como a maior parte das capitais de estados brasileiros, o municipio tem sofrido um problema de crescimento populacional intenso, sobretudo devido à chegada de novas populações que migraram de outros estados e das cidades e zonas rurais de outros municípios paraenses.
 
O pouco conhecimento da população que reside em áreas urbanas e peri-urbanas sobre as práticas de cultivo de hortaliças, fruteiras e culturas alimentares, como arroz, milho, feijão, mandioca e quintais agroflorestais entre outros, dificulta a utilização e manejo da terra de forma sustentável, fazendo com que as famílias obtenham baixa produtividade e como consequência uma renda irregular, refletindo assim na qualidade da alimentação e na qualidade de vida.
 
  
  
 
Com objetivo de difundir técnicas de manejo e cultivos de diferentes espécies, os técnicos da Embrapa Amazônia Oriental juntamente com os técnicos do Centro de Referência em Educação Ambiental Fundação Escola Bosque Prof. Eidorfe Moreira, realizaram no período de 16 a 18/03/2011 um curso com carga horária de 24 horas, com a participação de 25 pessoas, entre técnicos, moradores e agricultores familiares da comunidade Vista Alegre, na Ilha de Outeiro, região peri-urbana de Belém (Figura 1).
 
 
 
 
O curso envolveu uma parte teórica sobre técnicas de preparo de área sem uso do fogo, técnicas de cultivo da mandioca no Trio da Produtividade e técnicas de plantio e cultivo de açaizeiro e bananeira. Na parte prática foram instaladas duas Unidades Demonstrativas dos sistemas de produção das culturas, sendo uma com açaizeiros BRS Pará e outra com bananeiras do grupo prata Thap Maeo, ambas intercaladas com mandioca, variedade Paulozinho. 
 
O trabalho foi conduzido na ilha de Caratateua, também conhecida como Ilha de Outeiro, termo originado do latim “altariu” que significa local elevado. A ilha fica cerca de 15 metros acima do nível do mar e pertence à Região Metropolitana de Belém, distante 18 km da capital, ficando cercada pelo Rio Pará, ligada ao continente pela ponte Enéas Martins Pinheiro construída em 1986. Destaca-se por possuir uma paisagem natural e ser excelente ponto turístico devido à existência de seis praias, assim denominadas: Praia do Amor, do Artista, da Brasília, da Ponta do Barro Branco e Praia Grande. 
 
Moram na comunidade de Vista Alegre 16 famílias, a maioria é aposentada com a faixa etária de 52 a 68 anos, sendo observada a presença de apenas três crianças e poucos jovens adultos, em torno de quatro. Atualmente a comunidade encontra-se em fase de desenvolvimento organizacional, com a criação de sua Associação. Esta comunidade está sendo articulada e organizada pela Sra. Leonildes Silva que adquiriu seu terreno pertencente à Prefeitura Municipal de Belém, por meio da compra de terceiros há 16 anos, fixando moradia depois de 4 anos. A localidade não possui infraestrutura básica, nem tão pouco saneamento. A energia não é padronizada, não há telefonia fixa e há cobertura da telefonia móvel. Ainda verificam-se áreas verdes significativas que podem ser preservadas e áreas alteradas que podem ser utilizadas para construção de casas, pavimentação de ruas e utilização para agricultura periurbana.
 
No dia 16 de setembro de 2011 foi realizado um dia de campo com a presença de 72 pessoas e execução de três estações com demonstração das práticas de Roça sem Fogo, Trio da Produtividade, Bingo Banana e Cultivo e Manejo da Açaizais (Figuras 2 e 3).
 
 
As tecnologias demonstradas aos agricultores foram as práticas de Roça sem Fogo, o Trio da Produtividade da Mandioca, o Bingo Banana e a cultivar de açaizeiro BRS Pará. 
 
Com relação à Roça sem Fogo foi apresentado as seguintes etapas de preparo de área:
 
a. Demarcação da área –  aberturas de picadas para delimitação de uma área, com o uso de facões.
 
b. Broca - a vegetação de sub-bosque deve ser tombada em corte raso usado-se facões, com o objetivo de reduzir as rebrotas e futuros desbastes. Esta vegetação juntamente com a copa das espécimes lenhosas devem formar a palhada de matéria orgânica para cobr o solo.
 
c. Inventário – identificação de espécies de interesse econômico como as frutíferas e madeireiras que devem permanecer na área a uma distância mínima de 20 metros uma das outras.
 
d. Corte da vegetação lenhosa - todas as espécimes lenhosas que não tiverem interesse econômico devem ser tombadas em corte raso, utilizandose moto-serra e machado, a fim de reduzir as rebrotações e futuros desbastes. O fuste das arvores deve ser cortado em toras medindo 1 m de comprimento, para permitir a formação de medas de 1 m3 de lenha. 
 
d.Rebaixamento da galhada – efetuado com facão com objetivo de rebaixar a vegetação que cobria o solo e facilitar o trânsito de trabalhadores na área e as operações de piqueteamento, abertura de covas e plantio das culturas.
 
e. Abertura de covas e plantio da mandioca, banana e açaí – realizado no mês de janero, com a variedade de mandioca Maranhense plantada no espaçamento de 1m x 1m, a banana no espaçamento de 3 m x 3 m e o açaí no espaçamento de 5 m x 5 m. 
 
O cultivo da mandioca seguiu a orientação do Trio da Produtividade que consiste no preparo de manivas-semente, orientação de espaçamento de 1m x 1m e controle de plantas concorrentes durante os 150 dias iniciais de cultivo.
 
O Bingo Banana consiste em um método pedagógico que vem sendo testado com os agricultores familiares para difusão das cultivares de bananeira geradas pela Embrapa e do sistema de cultivo da bananeira na forma de um jogo lúdico para facilitar o entendimento e motivar os agricultores. O Bingo Banana inicia com o  fornecimento ao agricultor de um kit com 16 mudas de cultivares de bananeira e um folder, semelhante a uma cartela de bingo, contendo as orientações para plantio e tratos culturais da bananeira. Posteriormente, o agricultor fica encarregado de selecionar uma área para o plantio das 16 mudas de bananeiras em uma quadra, no espaçamento de 5m x 3m, conforme as orientações descritas no verso da cartela. Nas touceiras das bananeiras só podem permanecer a planta “mãe”, um “filho” e um “neto”. Os outros rebentos que nascerem devem ser transformados em novas mudas e plantados nas casas vazias do bingo até completar 100 touceiras conforme o bingo da cartela. O agricultor que completar o bingo (plantio de 100 touceiras) seguindo todas as orientações técnicas do processo recebe um prêmio de reconhecimento. As principais orientações técnicas descritas nas cartelas correspondem às três principais práticas agrícolas do sistema de produção da bananeira, conforme seguem:
 
1 - Seleção de mudas: preferir as mudas do tipo chifrinho e/ou chifre que variam de tamanho de 20 a 60 cm, com folhas lanceoladas.
 
2 – Desbaste das touceiras: desbastar sempre que nascerem novos rebentos permanecendo nas touceiras a planta “mãe”, um “filho” e um “neto”. Os desbastes devem ser feitos quando os rebentos atingirem de 20 a 30 cm, sendo aproveitados como mudas para plantio nas casas vazias do Bingo Banana.
 
3- Capinas:  deve-se fazer capinas ao redor da touceira num raio de até 1,5 m a fim de evitar a concorrência do mato, aproveitando-se a palhada para fazer cobertura morta das touceiras.
 
Com relação a cultivar de açaizeiro BRS Pará é a primeira cultivar de açaí do mundo e vem contribuindo significativamente para organizar a expansão da agricultura familiar no Pará, na Amazônia e nas outras regiões brasileiras. Dentre os impactos econômicos dessa tecnologia destacam-se a antecipação do início da frutificação, do 5º  para o 3º ano de plantio; aumento em 100% da produtividade, passando de 5 t/ha/ano para 10t/ha/ano e aumento de pelo menos 100% no rendimento da parte comestível, de 7 a 10% para 15 a 25% (média de 20%). Como benefício ambiental, tem-se a recomendação para cultivo em terra firme, em áreas consideradas degradadas como pastagens, capoeiras e outras. Ela também contribui para reduzir os riscos de acidentes de trabalho, pois a emissão de cachos ocorre a 1,12 m do solo, em média, permitindo comodidade ao produtor na colheita dos cachos evitando a operação de escalar os caules das plantas nativas que são altos e finos. Todos esses benefícios resultarão na melhoria na qualidade do produto final (polpa processada) com a redução no risco de contaminação dos frutos no local de colheita e com a redução no tempo de transporte (produtor até o mercado). As orientações sobre o sistema de cultivo do açaizeiro seguiu as recomendações de Oliveira at al. (2002).
 
Um gotejador de garrafa PET de 2,5 l foi adaptado para a irrigação complementar das culturas da bananeira e açaizeiro.
 
Bibliografia Citada
 
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php. Acesso em 22 de mar/2010.
INSTITUTO SOLO VIVO. Agricultura Urbana (disponível em http://www.agriculturaurbana.org.br/sitio/textos/solovivo.htm , acesso em 02/09/2005).
MARSICANO, K. Encontro em Brasília discute importância da agricultura urbana. Rede de Educação Cidadã. 2007. Disponível em: http://www.recid.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=466&Itemid=2. Acesso em 16 de abr/2008.
OLIVEIRA, M. S. P.; CARVALHO, J. E. U.; NASCIMENTO, W. M. O.; MÜLLER, C. H. Cultivo de açaizeiros para produção de frutos. Belém, Embrapa Amazônia Oriental, 2002. 18 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Circular Técnica, 26). Disponível em: http://www.cpatu.embrapa.br/publicacoes_online/circular-tecnica-1/2002/cultivo-do-acaizeiro-para-producao-de-frutos. Acesso em 28 de set/2011.
PARANAGUÁ, P.; MELO, P.; SOTTA, E.D.; VERÍSSIMO, A. Belém Sustentável. Belém:IMAZON, 2003. 112p.
 
Artigo originalmente publicado em 14/02/2012
 

 

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