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As estimativas de biomassa dos ecossistemas têm se popularizado dada a necessidade de maior controle sobre os estoques terrestres de carbono ante à tendência de aumento da concentração de CO2 na atmosfera. Os valores de referência sugeridos pelo Painel Internacional de Mudanças Climáticas IPCC (2006) para as florestas tropicais indicam para a razão da biomassa entre raiz:parte aérea (R) em florestas úmidas o valor de R = 0,37) com base em um estudo (N=1), já em florestas decíduas R = entre 0,20 e 0,24 (N=14) e em florestas sob clima seco (N=4) R = entre 0,28 e 0,56. Com essa amostragem, claramente insuficiente para representar as florestas tropicais (1.8 bilhões de ha), sendo 520 milhões no Brasil (FRA 2010), o nível de erro inerente é preocupante quando se pretende um monitoramento sério dos estoques de carbono.

Por outro lado a agropecuária cobre pelo menos 231 milhões ha do território brasileiro, sendo que as pastagens ocupam aproximadamente 158 milhões ha (IBGE 2006), dos quais acima de 100 milhões estão plantados com gramíneas do gênero Brachiaria (Embrapa 2008). Como a contribuição potencial das raízes dos pastos pode alcançar até 80% da biomassa total assegura-se que esse gênero tem significativa importância nos estoques terrestres de carbono. O IPCC (2006) indica para os pastos da faixa tropical (N = 16) R = entre 1,6 e 2,8, assumindo variações em torno dessas médias entre 95 e 130%. A amplitude desta variação por si só acarreta dificuldades de elaborar políticas ambientais para o setor pecuário devido a grande incerteza sobre os resultados que podem ser alcançados, pois a relação entre biomassa aérea e subterrânea permite inferir que o sistema de manejo influencia os quantitativos da fitomassa radicular, o que torna imperativo sua avaliação mais precisa.

Como a contribuição potencial das raízes dos pastos pode alcançar até 80% da biomassa total assegura-se que esse gênero tem significativa importância nos estoques terrestres de carbono

Uma importante razão para a melhoria da precisão das estimativas da biomassa radicular decorre da sua contribuição para a respiração do solo, na qual é responsável por pelo menos a metade do CO2 que é liberado (GOWER, 2003). Não é pouca coisa, só a absorção C pelo solo por processos biológicos naturais têm sido estimada na ordem de 60 x 1015 GT ano-1, ou seja 10 vezes a emissão de combustíveis fósseis e outras emissões antrópicas (6 x 1015 GT. ano-1 - CHENG & GERSHENSON 2008). Portanto as raízes influenciam decisivamente a concentração atmosférica de CO2 por afetar os principais fluxos terrestres de C. Felizmente, como biomassa está vinculada necessariamente à cobertura vegetal, seu aumento resulta geralmente em incremento das taxas de absorção de água no solo, contribuindo adicionalmente com a recarga hídrica que controla os fluxos para lençóis freáticos, aquíferos e rios.

Melhorar as referências técnicas irá embasar confiavelmente políticas públicas ambientais, mas sobretudo aumentar conhecimento sobre fatores físico-químicos do solo relacionados ao desenvolvimento radicular, o que poderá também ajudar na busca de maior eficiência nutricional dos cultivos. Deve-se reconhecer que estudos radiculares têm custo elevado porque demandam uso intensivo de mão de obra e equipamentos sofisticados de campo e laboratório como scanners e softwares. Mas é oportuno que se avalie com padrões técnicos confiáveis e em escalas compatíveis com a dimensão territorial do país a biomassa radicular dos diferentes usos da terra para fins de monitoramento ambiental.

CHENG, W.; GERSHENSON, A.  2008. Carbon Fluxes in the Rhizosphere. In: The Rhizosphere: An Ecological Perspective. Eds Elsevier Inc. NY 31-56
EMBRAPA, Gado de Corte. Marandu. 2008. Disponível em <http:// www.cnpgc.embrapa.br/produtoseserviços/pdf/marandu.pdf> acesso em março de 2012.
GOWER, S.T. 2003. Patterns and mechanisms of the forest carbon cycle. Annu. Rev. Environ. Resour. 28. p.169-204.
IBGE. 2006 Censo Agropecuário. (http://www.ibge.gov.br/cidadesat/ topwindow .htm1) - Acesso em março de 2012.
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change. 2006 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories: Prepared by the National Greenhouse Gas Inventories Programme, H. S. Eggleston, L. Buendia, K. Miwa, T. Ngara, K. Tanabe, Eds. (Institute for Global Environmental Strategies, Hayama, Japan, 2006).
GLOBAL FOREST RESOURCES ASSESSMENT 2010 (FRA, 2010). Rome: FAO, 2010. 371p. Disponível em: www.fao.org/forestry/fra/fra2010/en/

Artigo originalmente publicado em 08/06/2013

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