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Além de ser referência no campo da pesquisa agrícola, a Fundação MT desenvolveu métodos próprios de participação mais ativa no dia a dia das lavouras do Estado de Mato Grosso. Acompanha minuciosamente a rotina dos produtores com uma equipe de 22 agrônomos, que percorre as propriedades locais levantando problemas e exemplos de sucesso. Por ano, cada agrônomo desse grupo percorre cerca de 40 mil quilômetros em visitas. Esse trabalho credencia a Fundação MT à importante missão de atuar também como assistência técnica e extensão rural. Serviços fundamentais para que as tecnologias desenvolvidas em seus laboratórios ganhem os campos comerciais, mas que também sejam utilizadas da melhor maneira possível observando todas as recomendações técnicas e corrigindo eventuais problemas.
Em agosto, tem início o ciclo de eventos Fundação MT em Campo, dividido em temas como: “É Hora de Plantar”, “É Hora de Cuidar”, entre outros, cujo objetivo é fazer um balanço do que se viu na safra que passou e dar orientações importantes aos produtores. Ao todo, serão 18 eventos itinerantes em municípios matogrossenses e goianos. Leandro Zancanaro é engenheiro agrônomo, pesquisador e gestor do Programa de Monitoramento e Adubação (PMA) da Fundação MT. Nesta entrevista ao Portal Dia de Campo. Ele fala sobre esse trabalho de difusão de informação e aborda as experiências vivenciadas no estado na safra 2011/2012 e das tendências para a safra 2012/2013 nas culturas de algodão, soja e milho.
Portal Dia de Campo - O que foi obervado em termos de desempenho das lavouras esse ano?
Zancanaro - No caso da soja, a região sul do estado sofreu muito com o atraso da chuva, que dificultou o plantio. Depois disso, começou a chover bem e o plantou-se normalmente. Já no Mato Grosso, a chuva não atrapalhou e o plantio foi feito com sucesso. No entanto, em relação à safra passada, a produtividade foi inferior. Isso porque a safra 2010/2011 atingiu a maior média histórica de produtividade, em torno de 51 sacos/ha. Se compararmos os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), podemos ver que essa safra não foi menor em relação às anteriores, com exceção do último ano. Portanto, não devemos comparar essa safra com a do melhor ano. Já no caso do algodão, é uma safra que vinha muito bem em termos de potencial produtivo. Porém, entre fevereiro e março, em algumas regiões, choveu mais tarde que o previsto. Com isso, a produtividade do algodão partiu de uma expectativa alta e caiu para média. Na cultura do milho safrinha, os resultados podem ser considerados um dos melhores há anos no estado do Mato Grosso. Esse é o ano que teve maior área (2,5 milhões de hectares no estado) e maior produtividade.
Portal Dia de Campo - A Fundação MT está promovendo uma série de eventos, que começam em agosto, falando sobre os resultados obtidos nessa safra e quais são as recomendações para a safra a seguinte. O senhor poderia falar um pouco sobre isso?
Zancanaro - Nesses eventos, vamos avaliar os resultados da safra passada e dar as últimas recomendações antes do plantio da próxima (2012/2013). Vamos abordar a questão da utilização de insumos, divulgar resultados de pesquisas e recomendar produtos para o manejo da ferrugem e de pragas. Etapas como a utilização de fertilizantes e escolha de sementes já estão definidas.
Portal Dia de Campo - Quais são os bons recados para o plantio da soja 2012/2013?
Zancanaro - Para passar essas informações, são quatro pesquisadores no total. No meu caso, em relação à adubação, o objetivo é passar ao produtor os critérios para a tomada de decisão sobre o modo de aplicação dos fertilizantes que, tradicionalmente, eram feitos no sulco de plantio, hoje, por questões de tempo e economia, os produtores passaram a fazer em superfície.
"É possível afirmar que, tanto o grande quanto o pequeno produtor, está sempre atento ao lado empresarial do seu negócio", diz Zancanaro
Portal Dia de Campo - Quais seriam as principais diferenciações dos dois sistemas?
Zancanaro - A questão principal gira em torno dos fertilizantes fosfatados. No caso da aplicação em solos pobres, o produtor não deve abrir mão da aplicação de fósforo na linha de plantio. É a maneira mais eficiente em curto espaço de tempo. Quando se tem áreas cultivadas há muitos anos, a tendência é que o produtor consiga ter mais independência aos fertilizantes.
Portal Dia de Campo - A aplicação em superfície representa uma economia de quanto?
Zancanaro - Em primeiro lugar, o produtor consegue plantar a soja em uma maior área em menor espaço de tempo, o que reduz o custo operacional. Como consequência, ele consegue escapar da ferrugem, colher mais cedo e plantar uma proporção maior de milho safrinha.
Portal Dia de Campo - Em quais situações não seria possível fazer a aplicação em superfície?
Zancanaro - Em área de abertura, não é possível fazer aplicações únicas de fertilizantes fosfatados em superfície. Além disso, também não é possível em áreas de uso recente, com baixo teor de fósforo ou com problemas de nematoides. No caso do plantio de materiais muito precoces, também não é recomendada essa forma de aplicação.
Portal Dia de Campo - E no caso do algodão, alguma recomendação especial para a etapa da adubação?
Zancanaro - Na cultura do algodão, a grande questão atualmente é como fazer as raízes explorarem um maior volume de solo, cujas discussões caem muito na questão do manejo do nitrogênio, do potássio e do enxofre. Com isso, seria possível melhorar o aproveitamento da água e dos nutrientes aplicados ao solo. A gessagem, a calagem e o preparo de solo profundo são três práticas discutidas com foco nesses objetivos. Essa técnica permite uma estabilidade de produção da lavoura. Em casos de déficit hídrico, é possível amenizar as perdas.
Portal Dia de Campo - Como o senhor acompanha a evolução dos produtores que participam do evento, ano a ano?
Zancanaro - A aceitação desse público é muito boa. As informações transmitidas são sempre úteis para eles. Não podemos dizer que todos eles acatam essas recomendações, mas sempre utilizam a informação seja para aplicar, ajustar ou deixar de fazer. No mínimo, o produtor rural sempre refletirá sobre o que lhe foi passado. A ideia dos eventos não é oferecer ao produtor uma “receita de bolo”. A Fundação realiza um trabalho de extensão rural com resultados de pesquisas que podem ser aplicados. A ideia é esclarecer as dúvidas dele.
Portal Dia de Campo - Qual média em área e escolaridade desses produtores?
Zancanaro - Temos produtores que trabalham com áreas de 200 ou 300ha até 200 mil ha, ou seja, o número é bem variável. Com relação à escolaridade, a segunda geração de produtores costuma ter um nível de formação bem alto (mestrado, doutorado) e especialização em gestão de negócios. É uma geração bastante empresarial. É possível afirmar que, tanto o grande quanto o pequeno produtor, está sempre atento ao lado empresarial do seu negócio.
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