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O berne é uma ectoparasitose causada pela larva da mosca Dermatobia hominis, comum no Brasil. O aparecimento dos bernes está relacionado a regiões arborizadas com temperaturas moderadamente altas durante o dia e relativamente frias durante a noite, chuvas moderadas a abundantes, vegetação densa e um número razoável de animais (MARQUES et al., 2000).
Os danos causados aos animais são decorrentes da fase parasitária com o desenvolvimento de nódulos subcutâneos (processo inflamatório), irritação (dor e desconforto), infecções secundárias bacterianas (abscessos) e sangramentos (bicheiras).
As perdas estão relacionadas à redução no ganho de peso, diminuição da produção leiteira, gastos com mão de obra, medicamentos, desvalorização do couro e predisposição a outras doenças, bem como às bicheiras. Segundo Grisi (2002), as perdas anuais em função desse parasito são de aproximadamente 250 milhões de dólares.
O ciclo da mosca berneira exibe uma particularidade curiosa: as fêmeas não depositam seus ovos diretamente nos bovinos. Ela captura uma mosca de outra espécie durante o vôo e deposita seus ovos no abdômen da mosca capturada. As moscas capturadas são verdadeiros vetores de seus ovos e também são chamadas de foréticos. Os principais vetores são a mosca-dos-chifres, mosca-dos-estábulos e mosca doméstica.
Estudos da EMBRAPA (1998) relatam que animais com 20 a 40 bernes podem perder de 9 a 14% de peso e os couros, com 10 a 20 perfurações em sua região nobre, perdem de 30 a 40% do seu valor comercial. Calculando uma infestação média anual de 20 bernes, com uma perda de 19,7 kg/animal/ano, a perda total nos cerrados seria de 1,3 milhões de toneladas de peso vivo.
O combate ao berne é um dos mais complicados entre todos os ectoparasitos, pois a própria mosca D. hominis não se aproxima dos possíveis hospedeiros e sim utiliza outras moscas para distribuírem seus ovos (BORJA, 1982). Portanto, o controle do berne implica no controle de um grande número de insetos. Por isso, na maioria dos casos, o combate ao berne restringe-se ao tratamento das larvas presentes no corpo do animal. É importante salientar que existe uma grande preocupação do uso indevido de inseticidas, pois pode causar a seleção de cepas resistentes de insetos foréticos, as quais podem causar um aumento no número dos casos e nos níveis de infestação (HONER & GOMES, 1992).
A intensidade parasitária no bovino pode variar em função da época do ano, pelagem (cor e tamanho do pêlo), região corpórea, região geográfica, tipo de vegetação e o relevo de cada propriedade (OLIVEIRA et al., 1999). Embora as larvas sejam sensíveis aos inseticidas sistêmicos, a rápida mudança de gerações e a falta de sazonalidade requerem que qualquer sistema de controle envolva tratamentos repetidos.
O controle efetivo deve ser implantado por meio de dois tipos de tratamentos, o “Controle Estratégico Parasitário e Tático” no rebanho bovino da propriedade (OLIVEIRA et al., 1999). O Controle Integrado deve ser realizado aproveitando as oportunidades de manejo (por exemplo, manejo para a vacinação contra a febre aftosa), em épocas onde as infestações ainda não são expressivas ou no início do programa de Controle Estratégico. Quando as infestações já estão altas o recomendado é o Ataque Múltiplo, que não descarta as demais medidas de controle.
É fundamental adotar medidas de manejo como a remoção e tratamento dos estercos, piscinas de decantação ou biodisgestores no controle de outras moscas. Mesmo que a mosca berneira não faça a postura de ovos em fezes frescas, vale lembrar que existem vetores em parte de seu ciclo e que muitos desses vetores utilizam as fezes para multiplicarem-se. Portanto, se controlarmos a população dos vetores, estaremos automaticamente controlando a população de moscas berneiras.
O controle da mosca do berne deve ser local e sempre que possível realizado em todas as propriedades vizinhas, o que resulta em resultados mais eficientes e duradouros.
Barreiras para o controle efetivo do berne:
a) Grande diversidade de animais alternativos (silvestres, selvagens e domésticos) facilitando a reprodução dos bernes;
b) Grande número insetos transportadores dos ovos da mosca do berne;
c) Sistemas de criação que facilitam a movimentação dos animais em áreas de risco com clima quente, úmido e com árvores;
d) Uso de medicamentos veterinários com período de ação curto;
e) Falta de estratégias eficientes de prevenção e controle por parte dos pecuaristas (Controle Estratégico e Tático);
f) Resistência dos parasitos (vetores).
Controle e tratamentos
O controle pode ser obtido com o tratamento frequente por meio de pulverizações, banhos ou preparações pour-on. Atualmente, entre os medicamentos utilizadas no controle estão: os organofosforados (DDVP e Clorpirifós), os piretróides (Cipermetrina) associados aos organofosforados, as avermectinas (endectocidas injetáveis) e fluazuron + abamectina. Os piretróides comumente utilizados como carrapaticidas e mosquicidas têm pouca ação letal contra o segundo e o terceiro estágio do berne, contudo, possuem excelente ação repelente sobre as moscas vetores. Entretanto, os resultados obtidos nem sempre são satisfatórios, devido às variações, histórico de utilização de medicamentos, resistências e outras peculiaridades de cada propriedade.
Colosso Pour on, Colosso Pulverização e Cypermil Plus são exemplos de associações de alta eficácia e excelente custo/benefício. A administração de endectocidas injetáveis (Ivermectina OF, Iver LA, Aba LA e Master LP) ou pour on (Fluatac DUO) também são altamente eficazes, quando utilizados em programas de controle.
As avermectinas são os endectocidas mais recentes e mais potentes disponíveis para o combate do berne. Doses de 200 mcg/kg de peso vivo da ivermectina e abamectina são altamente eficazes no controle de todos os estágios do berne. O combate indireto do berne por meio do controle dos vetores está se tornando uma realidade com o uso da ivermectina e doramectina, pois fezes provenientes de bovinos tratados com essas substâncias não permitem o desenvolvimento das larvas dos vetores por 28 dias
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