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Meio Ambiente      
Produtividade dos recursos e não da plantação
Exploração excessiva de materiais não-renováveis suscita a criação de um novo conceito que incentiva a agricultura familiar
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Juliana Royo
08/06/2010

Em tempos de polêmicas discussões a respeito de aquecimento global e a revisão da relação que o homem tem com a natureza, surge um novo conceito para a utilização de recursos da agricultura. O professor de nutrição de ruminantes Rogério de Paula Lana, da Universidade Federal de Viçosa, é um dos palestrantes do II Simpósio de Sustentabilidade e Ciência Animal, que ocorre na Universidade de São Paulo, nos dias 15 e 16 de junho. Ele é um dos que propõem que os produtores revejam a forma de pensar a produtividade dos alimentos. Lana critica boa parte das recomendações de pesquisas científicas no país, diz que as altas produtividades não fazem parte do cotidiano da maioria dos produtores e diz que só a união dos agricultores familiares vai conseguir mudar a realidade da agricultura.



A ideia do professor é mudar o foco e fazer o produtor pensar a longo prazo e de forma responsável, para não gastar os recursos desnecessariamente nem poluir o meio ambiente. Para isso é preciso parar de pensar em altas produtividades animais ou vegetais e sim pensar em produtividade do recurso que está sendo usado, para fazer ele render mais e de forma mais eficiente. Ao invés de pensar na produtividade animal e dar o maior número possível de ração por animal, é preciso pensar na produtividade do alimento e dar essa ração para o maior número de animais possível. É uma mudança total de conceito que tem como base o incentivo à agricultura familiar.

O pano de fundo deste conceito é o abuso da exploração dos recursos naturais não-renováveis como fertilizantes, terras aráveis e petróleo, que são extremamente importantes para o desenvolvimento da agricultura, mas não são infinitos na natureza e correm o risco de acabar rápido demais por causa da superexploração que estão tendo nas últimas décadas. Com um novo modelo de exploração destes recursos através da saturação sintética seria possível usar os insumos de forma mais racional, distribuída, sem desperdícios e menos prejuízo ao meio ambiente. Mas para isso os produtores precisam diminuir as expectativas em relação aos índices de produtividade e trabalhar com a média de produção.

— Nós temos que nos conscientizar e usar os recursos não-renováveis de forma consciente porque todos eles têm limite de uso. O pico de exploração de todos os recursos aconteceu entre 2005 e 2007 e a tendência é ocorrer um declínio nessa curva de exploração e suprimento destes recursos ao longo das próximas décadas. Se a gente manter ou aumentar a taxa de exploração destes recursos por unidade de tempo a exaustão, o colapso pode acontecer mais rápido, é o chamado black-out. Esse processo pode levar ao colapso da produção de alimentos e ao colapso da própria civilização. Nós ainda temos a metade dos recursos para serem explorados, mas a gente tem que trabalhar em cima da eficiência de uso deles. A maneira mais fácil de trabalhar em cima desta eficiência seria utilizando o modelo de saturação sinética na produção de alimentos — explica Lana.

Após anos de estudos e uma pesquisa feita em 100 municípios mineiros, Lana diz que a maior quantidade de produção não está diretamente ligada a maior quantidade de adubos ou insumos ingeridos nos solos e plantas. Segundo ele, este aumento é decrescente, ou seja, não se mantém linear, vai diminuindo ao longo do tempo. O pesquisador diz que um produtor que já tem bons níveis de produtividade não deve querer aumentar ainda mais a sua produção. As pesquisas voltadas para o aumento de produção deveriam ser voltadas para aqueles que têm baixa produtividade.

— O modelo de saturação sinética surgiu inicialmente em 1913, na bioquímica, para explicar a atividade enzimática. Em 1949 houve uma pequena mudança nesse modelo para explicar a curva de crescimento microbiana, em função do uso do substrato, em função do acúmulo de produtos de fermentação. A escassez do substrato e o acúmulo dos produtos de fermentação levam a redução da velocidade de crescimento da população microbiana. No ano de 2005, a gente publicou um trabalho mostrando que esse modelo poderia explicar o crescimento da produção de alimentos, da produção vegetal e animal em função também do uso de substrato. À medida em que você vai aumentando o nível de concentrado numa ração para o animal ele aumenta a resposta produtiva, seja em ganho de peso ou produção de leite. Mas esse aumento na resposta ocorre de forma decrescente, não é linear como os modelos preconizam. A resposta linear seria quanto mais adubação maior seria a resposta da produtividade das plantas, mas não é isso que acontece na prática — critica.

Além de provocar desperdício dos recursos não-renováveis e não conseguir aumentar a produtividade da forma esperada, o que acontece com o uso indiscriminado de substratos é que eles são usados em exagero e podem contaminar o solo e até o lençol freático, dependendo de alguns casos. Outra forma de poluição é a produção de gases efeito estufa que são liberados para a atmosfera e contribuem para o aquecimento global.

— Ao utilizar menos recursos você vai economizá-los podendo utilizá-los por mais tempo e vai diminuir também a poluição ambiental. O excesso do uso de fertilizantes causa poluição, afeta o lençol freático. Excesso de fertilização nitrogenada ocorre que o nitrogênio não vai ser bem utilizado pela planta, vai ser transformado em óxido nitroso e vai para atmosfera, isso é um dos causadores do aquecimento global. Um outro exemplo é o calcário, que sendo utilizado na agricultura em grande escala vai ser transformado em CO2 indo para a atmosfera e contribuindo para o aumento dos gases efeito estufa, além do petróleo, lógico — ressalta o professor.

Para aplicar esta grande mudança de conceito na prática, Lana aposta nos agricultores familiares. Os pequenos agricultores já utilizam, mesmo sem saber, os recursos de forma eficiente, seja porque não têm dinheiro suficiente para investir em uma grande quantidade de insumos para a plantação ou em uma ração concentrada de alto nível para seus animais, seja por não quererem arriscar em investimentos. O professor dá um exemplo dos produtores de leite. Ele diz muitas pesquisas mostram formas de alcançar produtividade de até 30 litros por vaca/dia, mas a média nacional é de 5 litros por vaca/dia. Estes pequenos produtores de leite respondem pela base do sistema p
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