Este texto é um breve resumo da tese de doutorado defendida recentemente pelo autor no Programa de Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/COPPE), na qual analisou os mercados de produtos coloniais do Oeste Catarinense, região na qual se originaram os maiores grupos agroindustriais de carnes de aves e suínos do Brasil. Por produtos coloniais entende-se um conjunto de produtos tradicionalmente processados no estabelecimento agrícola pelos agricultores de origem italiana e alemã - os “colonos” - para o autoconsumo familiar, tais como salames, queijos, doces e geléias, conservas de hortaliças, massas, biscoitos e açúcar mascavo, dentre outros. Embora muitos destes produtos tradicionalmente já fossem vendidos no mercado informal, sobretudo pelos agricultores mais pobres, a partir do final da década de 1990, perante uma situação de crise nas atividades tradicionais, especialmente pela exclusão na suinocultura, agricultores organizados em grupos, ou mesmo individualmente, passaram a construir suas “agroindústrias familiares rurais” para produzir e vender estes produtos no mercado formal.
O autor analisou também questões legais, sociais, organizacionais e tecnológicas que envolvem o processo de produção e de comercialização destes produtos de qualidade diferenciada. Para tal, realizou-se extensa pesquisa de campo, com entrevistas na França e no Brasil, possibilitando comparações. Na França o autor entrevistou agricultores do Vale do Loire, produtores de alimentos de qualidade diferenciada (produits fermier) e, em Paris, feirantes de produtos orgânicos, estabelecendo comparações com a realidade do Oeste Catarinense, região enfocada no estudo, na qual foram entrevistados agricultores e demais atores do setor agroalimentar, como técnicos, líderes sindicais, dirigentes de cooperativas e de ONGs e diretores de indústrias agroalimentares de médio porte. Para analisar as possibilidades dos produtos coloniais acessarem mercados fora da Região, sobretudo junto à alta gastronomia, o autor entrevistou chefs de cozinha em grandes centros do Brasil.
Dentre as principais conclusões, as análises da pesquisa apontaram para o surgimento no Oeste Catarinense de mercados de produtos diferenciados que se constroem em torno da imagem positiva dos produtos coloniais. Assim, a Região, além de abrigar importante parque agroindustrial de suínos e aves, começa também a presenciar a emergência de uma economia de produtos de qualidade diferenciada.
Entretanto, os mercados de produtos coloniais têm-se caracterizado como mercados de proximidade. Porém, a pesquisa mostrou que esses produtos começam a percorrer caminhos extra-regionais, em pequenas quantidades, por se tratar ainda, majoritariamente, de mercado informal, seguindo, em termos geográficos, por duas vias principais: uma delas, pela rota migratória seguida pelos colonos, para o Mato Grosso do Sul, para o Mato Grosso e para estados do Norte e Nordeste (sudoeste da Bahia) ou então para o Rio Grande do Sul. A outra segue em direção aos grandes centros consumidores do País, sendo a comercialização efetuada, sobretudo, em restaurantes e churrascarias de propriedade de pessoas da Região. A pesquisa apontou também para a perspectiva de acesso a mercados de alto valor agregado, como a alta gastronomia, via chefs de cozinha desejosos de associar a imagem de seus restaurantes aos produtos artesanais.
Os produtos coloniais contribuem assim para construir uma nova imagem do Oeste Catarinense não mais apenas como fornecedor de alimentos de consumo de massa – derivados de suínos, aves e leite produzidos por grandes agroindústrias - mas também oferecendo produtos de qualidade diferenciada e de alto valor agregado, o que pode dinamizar outros setores econômicos, especialmente o de serviços como o turismo rural.
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