Sem dúvida alguma o agronegócio impulsiona a economia e o país. Dentre as atividades agropecuárias em destaque e em franca ascensão está a aquicultura. A razão para tal já é senso comum: o Brasil apresenta enorme potencial aquícola graças à grande quantidade de rios e reservatórios aptos à atividade, produção de grãos para fabricação de rações, inúmeras espécies nativas com potencial zootécnico para a produção, fatores climáticos e ambientais favoráveis. No entanto, existem desafios que são semelhantes àqueles enfrentados pelas outras atividades do agronegócio.
As questões burocráticas, referentes ao licenciamento ambiental, outorga de águas da União, responsabilidade técnica e sanitária do projeto, são os primeiros entraves a serem resolvidos antes da implantação de um empreendimento aquícola. Os problemas envolvendo a logística necessária para entrada de insumos e escoamento da produção são conhecidos em todos os setores produtivos, pois envolve a dependência de transporte rodoviário e nossa defasada malha viária, que quando está em boas condições, invariavelmente apresenta um sem número de pedágios aumentando os custos. Desta forma é necessário empenho e atenção a detalhes que envolvem a atividade e para que se tenha êxito, a palavra chave é planejamento.
O dimensionamento e a implantação do projeto adequado às condições locais, bem como as espécies desejadas para a produção são questões que podem ser facilmente colocadas em prática com um bom assessoramento técnico. Técnicas e sistemas de produção idem. Porém, as questões que merecem tanta atenção quanto as anteriores, são as relacionadas com o produto final.
Alguns produtores encaram a comercialização como a “parte fácil” do negócio, afinal, o difícil é produzir, vender é fácil, dizem eles. Será? É fato que oferecer um bom produto, seja qual for, envolve custos, desenvolvimento e aprimoramento de técnicas que garantam tal resultado. Mas mesmo o bom produto precisa de um mercado estimulado a consumi-lo e disposto à pagar os custos envolvidos em sua produção/comercialização, caso contrário a viabilidade econômica de todo o projeto pode ficar comprometida. No outro extremo, um produto com baixo custo de produção, mas de qualidade igualmente baixa, não garante um mercado certo apenas pelo preço baixo. Os consumidores, atualmente, se preocupam tanto com a qualidade e aparência quanto com o preço dos produtos. Assim, a margem de lucro que este produto inferior proporciona é esmagada para poder permanecer no mercado e, fatalmente, levará à inviabilidade econômica do empreendimento, principalmente quando não há um controle e planejamento dos custos de produção. Fica claro que não é tão fácil como se supõe.
A regularidade na produção, tanto na quantidade como na qualidade também deve ser bem trabalhada, já que a sazonalidade e outros fatores podem comprometer a inserção no mercado alcançada pelo produto em épocas de “vacas gordas”. Quando não generalizamos e nos referimos especificamente à produção aquícola, vemos claramente estes exemplos: peixes filetados com ótimo aspecto, porém “caros”, peixes inteiros ou eviscerados, mas oferecidos sem preocupação com a conservação ou com a aparência e peixes e camarões que ora são ofertados em grande quantidade e com bom tamanho, ora somem das prateleiras ou são ofertados em pouca quantidade. Estes casos não se restringem somente ao consumidor final, mas também aos frigoríficos que processam pescado que são afetados pela irregularidade na produção e comumente operam abaixo da capacidade, tornando as suas instalações ociosas.
O mercado de peixes ornamentais também exemplifica os problemas com a irregularidade e falta de planejamento por parte dos produtores, já que é muito comum a pouca oferta de peixes com boa qualidade, mas sempre com altos preços e, por outro lado, a grande quantidade de peixes com aparência ruim e preços baixos, que até atraem o consumidor à ingressar no hobby, mas muitas vezes prejudicam a atividade por desestimular o aquarista iniciante com mortes precoces.
Assim o futuro e também o atual produtor deve-se perguntar: “O quê produzir?”, “Quanto produzir?”, “Para quem produzir?” e estar sempre atento ao mercado e se comunicar com os elos envolvidos com a comercialização, já que muitas vezes a resposta está nestes segmentos. De posse destas informações, pode-se planejar melhor o desenvolvimento do empreendimento e estar preparado para conquistar mais e melhores oportunidades.
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